FILHOS DE LORICO

OS FILHOS DE LORICO

Lorico tinha um comércio em frente à casa da minha avó Augusta, que morava onde é, hoje, a Escola Estadual Pe. Vicente de Carvalho. Nesse comércio funcionavam uma padaria e um armazém. Nas horas vagas, ele e outros amigos gostavam de caçar. Os locais preferidos eram a mata da Fazenda Bananeiras e a mata da Fazenda do Sr. Ibrantino Paiva, na Limeira. Naquele tempo, início da década de 50, a caça não era proibida. Comenta-se que, certa vez, um dos caçadores ia atirar em uma mona (macaca) e esta, pressentindo o perigo, mostrou para o caçador um filhote que amamentava. Os caçadores partiram em desabalada correria e não mais voltaram àquele local.

Na venda do Lorico, trabalhavam os seus filhos: João, Sebastião e Arnaldo. O Zé Braz e o Ladinho eram ainda muito novos.

Expedito, o filho mais velho, foi ainda jovem para o Rio. Lá, trabalhou no Cassino da Urca e no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, onde funcionava, também, um Cassino. Era um grande violonista e, quando vinha a Calambau, trazia as novidades musicais do Rio interpretando as músicas de Francisco Alves, Noel Rosa e outros famosos. Depois de adoecer no Rio, veio para Calambau e aqui faleceu. O seu sepultamento, com grande número de pessoas, teve o acompanhamento da Banda Santo Antônio executando marchas fúnebres. Nós, os meninos da época, ficamos impressionados com esse acontecimento.

O João, também, foi para o Rio onde ficou algum tempo. Voltando para Calambau, dedicou-se ao comércio de cereais e galinhas caipiras que eram levadas para o Rio. Os cereais, principalmente milho e feijão, eram comercializados em Ubá, Barbacena e São João Del Rei.

Assim como o Expedito, João tocava violão e cantava, sempre animando o ambiente onde estava. Era muito brincalhão. Numa viagem para o Rio, levando galinhas, conseguiu pegar, no caminho, um tatu e prendeu-o na gaveta de ferramentas do caminhão. Chegando ao Rio, levou o tatu para um cinema na Cinelândia. Como chovia, escondeu-o sob uma capa. Conseguiu entrar e soltou o tatu dentro do cinema causando um tremendo reboliço, principalmente, entre as mulheres. A Polícia foi chamada, mas não conseguiu descobrir o autor da confusão.

João tinha uma namorada na zona rural de Calambau. Para homenageá-la foi a Ubá, alugou um teco-teco (pequeno avião) do então famoso piloto Ismael e, em vôos rasantes, despejou uma chuva de papel picado sobre a casa da namorada. Isso aconteceu há mais de cinquenta anos e tal fato é de causar inveja aos jovens de hoje.

A família do Lorico gostava muito de música. Uma de suas filhas, a Sinhá, foi cantora profissional em Belo Horizonte. Destacou-se, principalmente, em programas da Rádio Guarani. Sinhá, quando vinha a Calambau, cantava em festas da comunidade e fazia belas serenatas.

Os filhos de Lorico e de Dona Chiquinha, sua esposa, proporcionaram muitos momentos de alegria à comunidade calambauense.

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau /maio/2014

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 30/05/2014
Código do texto: T4826191
Classificação de conteúdo: seguro