O LIVRO

Em 2007, quando eu tinha 83 anos, escrevi uma crônica intitulada “A Leitura”, a qual foi publicada no meu livro “Crônicas Anacrônicas”. Hoje, sábado 17.05.2014, faltando quatro meses para completar 90 anos, vou tentar falar sobre o livro propriamente dito, que é um objeto mágico. Através dele se revela sabedoria e se transmite conhecimento. Minha formação, por assim dizer, intelectual, ou seja, minha capacitação para enfrentar a luta pela sobrevivência quando crescesse, começou mais ou menos aos quatro anos. Minha primeira mestra, a pessoa que me “desasnou”, foi minha mãe e os instrumentos que ela utilizou foram as antigas Cartas de ABC e a Tabuada. Ainda recordo: primeiro, foi aprender o alfabeto, as letras de “a” a “z”, minúsculas e maiúsculas, as vogais e as consoantes. Depois, a juntá-las: um b com a, b-a-ba, um c com a c, c-a-ca, e assim por diante, até a formação de palavras: dissílabos, trissílabos etc. O mesmo ritmo foi com a Tabuada. Com pouco tempo já estava lendo alguma coisa. Conforme já disse em alguma crônica anterior, mamãe prosseguiu a minha instrução ensinando a ler alguns livros de histórias, de fábulas, até de mitologia, que haviam sido do meu irmão José Augusto, dez anos mais velho. Isso incitava a minha imaginação. Ela estimulou muito em mim o gosto pela leitura. Na minha adolescência costumava varar as noites lendo os livros de aventura da época. Da antiga coleção “Terramarear”, entre outros “O Mar de Sargaços”, “O Último dos Mohicanos”, “A Ilha do Tesouro”, os livros de Júlio Verne, “O Conde de Monte Cristo”, “Os Três Mosqueteiros” e muitos outros, evoluindo mais adiante para “Os Miseráreis”, de Victor Hugo, “Guerra e Paz”, de Tolstoi, “David Copperfield”, de Charles Dickens. Os brasileiros Humberto de Campos, José de Alencar, Érico Veríssimo, Rui Barbosa, Jorge Amado. E não parei mais. Tendo apenas o curso primário, ela gostava de ler. Lembro que, naquele tempo lia os famosos romances que vinham em folhetins: “A Cabana do Pai Tomaz”. “A Toutinegra do Moinho”, “O Moço Loiro” e outros. Alguns deles a faziam chorar.

Atualmente, é bem diferente. Como os pais trabalham os dois expedientes na luta pela sobrevivência e pretendendo cada um ter a sua independência para qualquer “eventualidade”, ou seja para uma eventual separação, hoje frequente, a criança, já aos dois anos – ou até antes – vai para um “jardim da infância” e, em muitos casos, elas sempre têm uma “babá” e só veem os pais, quando veem, nos fins de semana. Antigamente, ou seja, no meu caso, quando fui para a escola da professora dona Candinha, a pouca distância de minha casa, já estava mais adiantado do que os outros meninos-alunos, de modo que, nas sabatinas dos sábados, em que funcionava a palmatória, eu sempre sabia a resposta, dando “bolo” nos outros. No ano seguinte, matricularam-me no Grupo Escolar 30 de Setembro, de saudosa memória. Concluído o primário fui, em 1938, para o Ginásio Diocesano Santa Luzia, para o qual meu pai precisou comprar livros de História do Brasil, de Geografia, de Português, de Matemática e de Latim. Para cada matéria era um professor. Aprovado sempre, até a quinta-série, estudei, gradativamente, Desenho, Francês, Inglês, História da Civilização, História Natural, Física e Química. Mesmo assim, para ingressar, por concurso público, no Banco do Brasil, onde consolidei minha vida, tive que aprender ainda, com professores particulares, Aritmética Comercial e Contabilidade Bancária.

Bom, mas o tema desta crônica é o LIVRO. Na remota antiguidade, os homens do Antigo Egito e do Oriente Médio utilizaram-se de folhas de papiro extraído de uma planta e beneficiado. Outras civilizações fizeram suas gravações em pedra. Substituindo o papiro, o homem passou a utilizar o pergaminho, que era extraído da pele do cabrito ou do cordeiro, isto do século II ao século VIII a.C., quando teria sido substituído pelo papel, descoberto pelo chineses utilizando fibras vegetais. Só no século XV o alemão Guttenberg inventou a imprensa, tendo sido a Bíblia o primeiro livro impresso. O primeiro jornal em papel foi publicado em 713 d.C. Com a evolução dessa impressora surgiram os primeiros jornais, a imprensa particular em diversos países, divulgando notícias e publicando artigos dos antigos escritores

Segundo o escritor Martin Seymour-Smith, em os “Os 100 Livros que Mais Influenciaram a Humanidade”, o mais antigo teria sido o chinês “I Ching”, 1.500 a.C. e o segundo, a Bíblia, contendo o Velho Testamento que narra a história da Criação, e o Novo Testamento, que traz a “Boa Nova” com o nascimento de Jesus Cristo; a Bíblia foi, e continua sendo, o livro mais vendido do mundo. Para mim, o livro é um objeto de estimação, quase como um filho. Possuo uma razoável biblioteca e, embora saiba que não tenho mais condições de lê-los, continuo comprando só para ter o prazer de possuí-los.

Há um soneto, “Ao Visitante”, cujo autor desconheço, em que o primeiro quarteto diz: “Todo o livro que mora nesta estante/ Quer seja encadernado ou em brochura/ É tido como um filho interessante/ Tratado com desvelo e com ternura.”

Resumidamente, e de modo um tanto desordenado, foi o que consegui dizer sobre a importância do livro.

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 01/06/2014
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