COPA NORDESTINA.

Descalço, é assim que vou para minha escola, descalço, ..

“Paim,”disse que não tem dinheiro para a sandália de couro que vi na venda do Senhor Malaquias, disse que tava muito cara, R$ 4,20 e que com esse dinheiro daria pra compra um saco de feijão e um fumo de corda.

Permaneço descalço, antes havia bolhas nos pés e hoje existe calos, melhor calos que dói menos a caminhada de 7 quilômetros até a escola, ainda bem que quando eu chego tem uma muringa d´água gelada pra saciar a sede, a professora não deixa beber bastante porque é pra todos da sala e que caso acabe deverá um dos meninos buscar rápido lá no poço, ainda bem que o poço é pertinho, 2 quilômetros.

Hoje iremos apreender a cantar o Hino Nacional, a professora disse que o nosso PAÍS irá sediar a copa do mundo e que deveremos fazer uma apresentação na cidade, na casa do senhor ERNESTO, é o único que tem Televisão e energia elétrica gerada a diesel, às vezes penso em um dia toma banho na casa do senhor Ernesto, deve ser quentinha a água do chuveiro.

Depois da aula volto para casa, e no meio do caminho uma surpresa, um largato Teiú, prego a corre atrás dele e de tanta paulada em sua cabeça consigo mata-lo, hoje fique feliz, vou ter mistura junto com o feijão que diga de passagem está com cheiro vencido, a três dias.

Já noitinha em casa, e pós janta, sento na varanda do quintal de terra com meu pai, que me mostra a importância da vida e como devemos ser um com outros, conta causos dos antepassados e lendas rurais nordestinas. Amanhece e logo cedo já estou de pé, para ir homenagear o Brasil com a abertura da copa do mundo na casa do senhor Ernesto, acredito que antes do almoço nos tenhamos chegado, pois ouviu dizer na escola pela professora que irão servir sopa, e eu adoro sopa.

Na cidade, eles deram uma camiseta e um chinelo, ainda que emprestado, mais me senti confortável naquela situação, fazemos os agradecimentos ao santinho padeciço e já começamos a cantar o Hino, ainda não sabemos direito o final desse Hino e não entendemos o significado de tantas palavras estranha e nunca faladas no dia-a-dia. Estranho!

Acabou a comemoração, hora do jogo, devolvo o chinelo e camiseta do Brasil com o nome de dunga, nem sei que é esse senhor, mais deve ser bonzinho, pois serviu certinha a camiseta em mim. Retorno pra minha casa, cansado e exausto de tanto caminhar, mais fui informado pelo meu pai que irá comprar um Jegue, pra longas jornadas, como essa até a cidade, 12 quilômetros.

Mais com uma coisa fiquei feliz, o Brasil ganhou o primeiro jogo e com isso fomos dispensados da escola no próximo jogo. Graças a deus.

TIAGO ALEXANDRE
Enviado por TIAGO ALEXANDRE em 04/06/2014
Reeditado em 04/06/2014
Código do texto: T4832210
Classificação de conteúdo: seguro