A prova de Francês

Assim que saiu o edital do processo de seleção para o Doutorado em Comunicação e Semiótica na PUC – SP, Rodrigo se inscreveu e desde então começaram as preocupações. Como no mestrado havia feito opção pelo Inglês, agora, no Doutorado teria que estudar a Língua Francesa que ainda não dominava de forma suficiente para enfrentar uma prova de tamanha importância. Tinha em casa os métodos de Francês que pertenceram ao seu irmão Lúcio, quando estudou na Aliança Francesa. Durante três meses, debruçou em cima desses livros e, com dificuldade, lia as anotações feitas a lápis nas margens pelo irmão que, apesar de ter muita facilidade para Línguas, sua letra era um verdadeiro garrancho. Enquanto estudava, era impossível não sentir a presença dele naqueles livros. De certa forma aquela presença espiritual dava-lhe ânimo, encorajava-o nos estudos. Do Alto, recebia esta ajuda e mentalmente agradecia a cada dia. Além do estudo do Francês, Rodrigo envolveu-se com afinco no Projeto de Pesquisa a ser desenvolvido no Curso. Ficava tenso e ansioso só em pensar na apresentação.

Na data determinada pelo edital, Rodrigo seguiu para a universidade preocupado mas com a esperança de ter um bom desempenho. Tinha a consciência de que fizera a sua parte; mesmo assim encontrava-se receoso. Chegou à instituição com o coração apertado. Enquanto aguardava a hora, sentou-se num banco dos corredores. Pensava nas questões da prova que, provavelmente, seriam muito difíceis. Só de pensar, já se apavorava e sentia-se inseguro. Para se acalmar, começou a “conversar” com o irmão, desabafando com ele sua preocupação e pediu-lhe ajuda. Nesta conversa, que se prolongou por alguns minutos, bateu-lhe uma grande saudade. Rodrigo se emocionou e chorou.

Chega a hora. Rodrigo recebe o caderno da prova. Com um olhar perscrutador, viu que as questões eram dissertativas. Leu as instruções com cuidado. Olhava as questões uma a uma. Não eram difíceis, como imaginou. Acalmou-se e começou a respondê-las. Procurou caprichar na letra, mas era só garrancho que via a sua frente. “Nossa, desse jeito, vou tirar zero na prova. Não vão conseguir ler nada”, pensava. Esforçava-se, no entanto não houve jeito. A caligrafia mais parecia com a do Lúcio. Todas as questões resolvidas, entrega a prova e, receoso, passa os dias à espera do resultado.

Em que pesassem os “garranchos”, foi com a maior euforia que recebeu o resultado da instituição, conferindo-lhe o primeiro lugar na prova de Francês com quase a totalidade dos pontos. Valeram de verdade os elos invisíveis.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 04/06/2014
Reeditado em 19/06/2014
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