Doces momentos ao cair da tarde.
A mãe chegaria mais tarde e a empregada tinha hora para sair. O jeito era o menino ficar na casa da avó.. O garoto gostava da avó, mas não gostava de ficar na casa da avó. Era uma casa muito séria para um menino de seis anos.
A avó compreendia o que se passava no coração do neto. Afinal, dentro da casa estava o avô, que não falava e permanecia de olhos fechados. Imagens de enfermeiro e cadeiras de roda, não despertavam no menino sonhos ou fantasias.
Mas o jardim, este sim, o menino gostava: alegre, claro, cheio de vida, com flores, pássaros e um doce perfume, que estimulava sua ânsia de viver.
A senhora, percebendo a situação, assim que o neto chegou, o convida para irem brincar no jardim. E ali, ao ar livre, os dois se descobrem e brincam com tudo que a imaginação permite e que seja possível adaptar-se aos limites físicos da senhora..
Com carinho a avó propõe:
Que tal chicotinho queimado?
O menino aceita desconfiado. Seria divertido?
A brincadeira começa. Na velha senhora desperta a criança adormecida: Chicotinho queimado, um, dois, três, ela grita com entusiasmo!
Os olhos do menino brilham curiosos, em busca do objeto escondido.
Fala vó: ta quente ou tá frio?
Muito frio, ela responde.
O menino lentamente se afasta do local e ao aproximar-se de outro recanto, vibra ao escutar a avó proclamar que está muito quente! Pelando!.. E o menino, no auge do entusiasmo, encontra o que procurava. Agora será a vez de ele esconder e a avó procurar... A alegria toma conta da tarde.
Já cansados, resolvem apreciar os pássaros que voltam a seus ninhos e enfeitam o fim da tarde com seus cantos e cores.
A avó propõe:
Que tal fazermos versinhos sobre o que vemos? O menino, após a explicação do que se tratava, e por ser uma criança que gosta de usar a imaginação, aceita a brincadeira com entusiasmo.
Entre risos e gargalhadas, o menino se faz poeta, enquanto a avó, cativa do neto e do momento, em um pedaço de papel anota os versos criados por ele:
“Canarinho, cada vez ia cantando e em todo redor ficava muita alegria e muito amor.”
“A minha árvore de manhãzinha nascia da sementinha.”
Pena que a tarde se foi e o jardim começa a ficar mergulhado nas sombras...Chico já está cansado, e a avó revigorada.
Assim como os pássaros, o jeito é voltar ao ninho.
A mãe de Francisco não tarda.