CANÇÃO PARA NINAR HOMEM GRANDE.

Há tempos, e minha mãe, dona de um horizonte repleto de vida – jovem – labutava com uma vassoura em punhos, a assear todo o vasto quintal da nossa casa. Lembro-me claro, como aquela manhã luminosa. Eu e meus irmãos – crianças – sem saber preocupações, imersos em um particular mundo lúdico, brincávamos sem limites. E foi assim, no sem-limites da brincadeira, que ao arremessar uma pedra – e nem era para matar passarinho – a pedra encontrou a Dona Velina. Faz muito tempo desta vida de pedra, poderia ser hoje, ontem, ou a um milhão de anos – não me esqueceria do quanto ficou roxo o olho da minha mãe.

O meu pai deveria chegar ao final da tarde – homem de aço, montado em cavalo de aço – trotando na rústica estrada que rasgava o morro que dava para nossa casa. Eu já podia antever, viria munido de duro e implacável castigo – não bastaria a indulgência materna, minha carne estava condenada a provar o pavor da dor. Nem me importava, aquele castigo não teria o preço da minha vilania. Eu desejava um desterro a anos luz daquele quintal, daquela casa, daqueles irmãos, daquela mãe, daquela família.

Chegou a tarde, chegou meu pai... Passou o tempo e fiz-me homem. E nem sei escrever uma mensagem para o dia das mães. Quem saberia? Como escrever uma homenagem para a mãe que disse ter machucado o olho ao manejar uma vassoura varrendo um quintal tão grande? Como posso agradecer a quem te abraça e lhe fala como confidência: "A sua pele foi feita para carinhos e não para açoites". Quem sabe agradecer a alguém que ensina a beleza do perdão e lhe dá generosamente perdão para a vida inteira?

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Joel Rogerio
Enviado por Joel Rogerio em 12/05/2007
Código do texto: T483995