O lado bom da velhice

Velhice: para mim, um tema recorrente. Deve ser a idade que me puxa para esse lado. Interessam-me as pesquisas sobre o assunto, mas não exatamente aquelas que tratam do definhamento físico, da ladeira abaixo a que, ano a ano, somos submetidos. As relações pessoais são o meu foco. A forma como a pessoa se conduz com o passar dos anos. Nessa busca ajudou-me bastante a professora Miriam Goldemberg, em seu livro a Bela Velhice, que me acompanhou no carnaval. Miriam fez uma escolha: em seus estudos não trata das “violências, discriminações e preconceitos sofridos pelos velhos”, assunto já exaustivamente pesquisado por outros autores. Ela se preocupa em “compreender se existe algum caminho para conseguir chegar à última fase da vida de uma maneira mais digna, mais plena e mais feliz”.

Em seu dizer esse lado bom da idade está em “encontrar um projeto de vida, buscar o significado da existência, conquistar a liberdade, almejar a felicidade, cultivar a amizade, viver intensamente o presente, aprender a dizer não, respeitar a própria vontade, vencer os medos, aceitar a idade e dar muitas risadas”.

No livro ela relata sobre as muitas mensagens que recebe como resposta aos seus escritos na coluna quinzenal da Folha de São Paulo, daí surgindo o que, para ela, poderia ser um bom lema para uma “bela velhice”: “eu não preciso (mais), mas eu quero”, com ênfase nos verbos precisar e querer. Por que isso? Segundo ela porque é chegada a hora de “fazer suas escolhas mais livremente e priorizar a própria vontade”. Com isso, “o trabalho, o estudo, as atividades cotidianas, as amizades, o cuidado dos outros não seriam obrigações a serem cumpridas. Seriam escolhas livres, não mais imposições sociais ou familiares”.

Por demais interessante no livro são as suas considerações sobre a risada. As reflexões sobre isso vêm do estudo da obra de Viktor Frankl, psiquiatra austríaco que sobreviveu a quatro campos de concentração, tendo perdido, a mãe, o pai o irmão e a esposa, assassinados pelos nazistas. Em sua crença de que o humor é uma “arma da alma na luta por sua autopreservação, propôs a um amigo do campo de concentração um compromisso mútuo de inventarem uma piada por dia”. Foi a partir daí que ela resolveu estudar “a importância da risada, o bom humor e da leveza na última fase da vida”.

Os dados revelaram que os homens enfatizam mais a importância do humor para o bom envelhecimento, enquanto as mulheres davam mais importância aos cuidados com a aparência. Mas ela descobriu também que as mulheres mais velhas dão mais risadas, isso porque colocam o foco no próprio prazer “e deixam de se preocupar com o que os outros pensam”. As suas dicas: rir de si mesma, não se levar tão a sério, não se preocupar com a opinião dos outros, sair mais com as amigas, ser mais leve, namorar ou casar com alguém bem humorado, assistir a filmes e shows divertidos, e, até, comer mais chocolate. Para elas a risada é um importante elemento para a sedução, a beleza e o rejuvenescimento. E aí, vamos rir mais?

Fleal
Enviado por Fleal em 12/06/2014
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