DILMA, AQUI TU NÃO FALAS!

O dia de hoje certamente entra para a história dos mundiais, mas não pela abertura de sua vigésima edição, que foi pifiamente organizada por belgas; tão pouco pela aparição meteórica do exoesqueleto projetado pelo neurocientista Miguel Nicolelis ao custo de 30 milhões de reais; nem mesmo pelo primeiro equívoco escandaloso da arbitragem ao marcar a favor do Brasil um pênalti não cometido pela Croácia; e embora se justifique, também não foi pelo primeiro gol contra de um jogador brasileiro na partida inicial de uma Copa do Mundo. O dia entra para a história por uma atitude coletiva que repercutirá nos jornais do mundo inteiro, alçada que foi, em coro, pela grande maioria de uma massa verde-amarela que não está nenhum pouco satisfeita com os bastidores sujos e inescrupulosos que geraram a copa, ou que a geriram, para ser mais exato.

As estrepitosas vaias e a infame frase de reprovação (tão costumeiramente ouvida por jogadores, árbitros e torcidas adversárias em tardes de domingo) que ecoaram por todo o Itaquerão, foi uma resposta contundente à politicalha entranhada nos quatro pontos cardeais desta pátria de chuteira, e se a frase não teve a veemência elegante da do rei da Espanha Juan Carlos ao admoestar, numa reunião, a Hugo Chaves: “Por qué no te callas?” teve sem dúvida alguma a carga emotiva do protesto e do sentimento de parte considerável da nação, extravasada no mais expressivo palco brasileiro, um estádio de futebol. Neste parte considerável da nação, excluam-se, naturalmente, os militantes estrelados e os poucos empreiteiros beneficiados, pois estes estarão sempre mui bem dispostos a propagandearem o tal do LEGADO da Copa do Mundo nas redes sociais. A propósito, a Rede Globo também não revelará, nem sob tortura, a bufunfa amealhada nesta copa-cozinha.

É óbvio que a senhora presidenta Dilma Rousseff, representante máxima do estado brasileiro e o senhor Joseph Blatter, maioral do estado paralelo, leia-se FIFA, que se instalou em terras tupiniquins, já estavam de antemão e “diplomaticamente” resignados ao silêncio. A anfitriã e legítima torcedora sabia que mesmo presente, não exerceria o direito, já consagrado nas copas precedentes aos chefes de estado, de abrir oficialmente os jogos. Isso por si só, já foi um humilhante castigo. O que talvez não imaginasse é que mesmo se submetendo à forçosa mordaça e a blindagem diplomática, fosse ainda ter que ouvir vaias e xingamentos que poderiam ter se traduzido por algo mais elegante: “Dilma, Aqui tu não falas”. Diga-se de passagem, tudo isso em plena capital governada por seu próprio partido.

Os xingamentos, seja de que ordem for e mesmo em estádios de futebol, onde são tão comuns, são aos meus olhos e para a minha ética, absolutamente reprováveis e dizem muito da educação de um povo. Malgrado isso, é preciso interpretá-los, sabendo-se também que em seu sentido mais profundo não foram endereçados unicamente à senhora presidenta, mas a toda a classe política brasileira, independentemente de sua cor ou símbolo partidário, e que ali, de um modo ou de outro estava personificada na figura da candidata e presidenta Dilma.

Muito bem! Interpreto o episódio como sendo sim uma resposta às promessas não cumpridas das obras ditas estruturantes; como um repúdio à falta de mobilidade urbana e de insegurança que todos nós vivemos; como um grito de luto pelos 09 brasileiros que perderam a vida nessa odisséia maluca de canteiros de obras com trabalhadores submetidos a regimes de trabalho desumanos nos últimos meses para cumprir com os ponteiros do padrão FIFA; é talvez também uma resposta às milionárias FAN FEST´S que estão a promover uma verdadeira FANFARRA com o dinheiro público; é um desabafo à corrupção que aqui funciona com a precisão e pontualidade de um verdadeiro relógio suíço; e são enfim, ecos em linguagem futebolística de um junho passado, convulso e de triste epílogo.

Imagino o enorme constrangimento da presidenta, imagino também a sua angústia pessoal e humana. A herança foi pesada demais, e só será melhor aquilatada quando os órgãos de investigação se debruçarem sobre as contas a serem apresentadas, isto se elas não forem para sempre soterradas nas “arenas” movediças que hoje brilham com seus holofotes ou desaparecidas nos buracos negros e pantanosos de entulhos que ainda estão escondidos por diversos tapumes.

Lula lá não apareceu, macaco velho resignou-se a ver, provavelmente em em casa, a sua obra, longe dos apupos e desaforos, mas muito perto, em sua própria consciência, do bem e do mal que gerou. E Viva o meu Brasil Brasileiro!

Marcos Cavalcanti

Marcos Cavalcanti
Enviado por Marcos Cavalcanti em 13/06/2014
Código do texto: T4843949
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.