Procuro os dias da vida que existia antes de ti.

Procuro os dias da vida que existia antes de ti. Mas, já não os encontro, eles viraram uma sombria nevoa composta de esquecimentos. Sei que olhava pra ti e sabia, exatamente, a cor e a forma dos teus pensamentos ou como pensavas ou sentias sobre todas as coisas. Ou, tristemente, assim imaginava perdida no dolorido amor que te dedicava. Hoje, sei que já não posso te tocar, pois a tua imagem difusa escorre pelas minhas lembranças como um rio escoando para um mar em tempestades. Para onde foram aqueles dias cálidos de beleza, não sei responder, assim como não me encontro longe de ti, já não me encontro ao teu lado. Se ao menos partilhássemos alguns sonhos mesmo que irrealizáveis, talvez eu enxergasse essa existência que havia antes de ti.

Sei que saístes aos poucos do meu coração. Num dia qualquer passei a não enxergar mais o castanho bonito dos teus olhos, no inicio para descansar da agonia que me causavas. Depois fui me acostumando a não te olhar mais, era mais simples, menos doloroso. Aos poucos foi o meu olhar que inventou vida própria, desistiu de seguir a tua figura bonita, mas sempre imprecisa. Se as tuas mãos não sentiam falta do meu toque, se minhas palavras já não te causavam gargalhadas, isso não mais me afligia. Sabes aquela praia distante que nunca fomos, mas fazia parte das nossas insanas fantasias, já não me importa mais, pois somente sinto a mansidão da desperança. Penso muito naqueles dias que permanecem intactos antes de adentrar na minha vida.

Não sei te amava ou ansiava o amor que idealizava ver em ti. Debatia-me naquele amor como um pássaro atado a uma gaiola de ferro. Era como se eu quisesse sair, sofregamente, dele e quando eu chegava à porta da saída, recuava. Sim, claro que os dias antes de ti eram mais quietos, mas tão desocupados da nossa visceral paixão. Raramente, o teu amor possuía simultaneidade comigo, parecia que somente a raiva, as brigas e as insanidades nos colocavam em sincronia. Aos poucos fui me despindo de ti e me vestindo de silêncio para me proteger. Sei que pensas que te abandonei antes, mas não é verdade, pois desaprendeste de mim tão antes... Sei que ,às vezes, alguns amores parecem que foram criados para o combate, afinados na cegueira transparente de matar e amputados nos órgãos do amor. Espero tanto, tanto o que tem antes de ti ou depois...

Marisa Piedras

14/06/2014

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 14/06/2014
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