Oração a Clarice Lispector e a um certo Manuel de Barros...

Às vezes você reclama por que não pôde postar um pensamento teu escrito em dez linhas ou cinco laudas. Balela. É bom que eles tenham sido abortados. Porque se não o fossem, tu estarias preso ao que tornou público. É quem nem sempre o que é escrito deixa de fazer parte do que somos. O que dizemos, sim, é parte integrante nossa. Que, uma vez dito, proferido etc., passa a interagir, no mundo, de alguma forma, com outros discursos.

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Os meus dias são cíclicos. Mas há alguns acontecimentos míticos neles. É que eu preciso ser meu outro eu – embora isso me custe um pouco meu próprio sossego. Viver é outra história. Hoje, a exemplo disso, achei um pedaço do tempo. Preso à minha roupa. Desisti de tentar soltá-lo: levaria, pois, um pedaço de mim. É que a gente tem muito o que aprender – dentro e fora da gente. Na escola da vida há salas vazias? Professores em demasia? Alunos sem professor? Deus que língua fala quando quer ser ouvido pelos homens? Amanhã é outro dia? Com que sabor? Com que ser?

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Hoje botei todas as feras fora de mim. Elas ficaram com medo do que viram e resolveram disciplinar-se pouco a pouco. Até que perderam a força – mas poderão voltar. Estou preparado. Mas não para mim...

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Que ninguém se engane: só encontro as mensagens dentro e fora de mim. Mas como dá trabalho ser você mesmo!

Wellington V. Fochetto Junior