Lençol, lâmpada e teto

Quando as lágrimas secaram em meu rosto fui estender a cama. Joguei o lençol ao ar e ele caiu em meu rosto. O cheiro de roupa lavada era como um chamado ao toque...

Fui cheirando o lençol e o retorcendo enquanto aquele tecido acariciava a pele do meu pescoço. Então o fui envolvendo lentamente quase como um prazer sexual aquela corda feita de lençol em torno no pescoço. E ia apertando aos poucos... E o ar indo embora me fazia girar. E eu sorria, eu sorria e a maciez do lençol contrastava com a dor que sentia...

Então me perdi na vertigem e olhei a lâmpada no teto.Tão alaranjada, e o teto, o silêncio... Ah! O silêncio que aquela visão me proporcionou era quase divino, como um desejo realizado. Era um prazer inigualável ver aquele silêncio do teto. Parecia mesmo a realização de um sonho... Quanto mais eu apertava, mais o silêncio vinha em minha direção, a paz, a tranquilidade que eu chorava por ter estavam comigo. Aquela paz tão gostosa, tão necessária... E o lençol sendo apertado... Eu clamava para que aquilo fosse eterno. A paz eterna! Queria que aquele momento fosse o felizes para sempre dos contos de fadas. Queria que aquilo fosse perpétuo...

Mas durou poucos segundos. O medo foi maior, o que vem depois? Será o inferno, o vale dos suicidas ? A religião me apavorou, ela me tirou o prazer da paz eterna e encarei Deus. Ele me olhava com reprovação e voltando pro meu pesadelo diário fiquei esperando agora as coisas pioraram mais por um castigo divino...Amanhã começo a sentir os remorsos, arrependimentos por meus desabafos. Ele vai ser cruel dentro de mim, ou não, talvez eu mereça. Mas rezo ainda para que não venham castigos piores. Não entendo porque tenho que ser grato por sofrer. Não é justo! Ele sabe tudo... Eu não. Eu sou fraco, Ele sabe...

Mas vi que não adiantava questionas os desígnios divinos. As coisas de Deus são incompreensíveis. Como eu, eu devo ser uma coisa de Deus, já que ninguém me entende. Ninguém vai entender a paz da luz laranja, ninguém vai entender o silêncio do teto, ninguém vai entender a maciez do lençol no meu pescoço. Só eu mesmo entendo o prazer da paz eterna, do silêncio, da calmaria, da luz do teto e do lençol em meu pescoço.