Viagem abstrata

Um frio em São Paulo ,no ônibus vazio, me senti muito confortavél na volta pra casa, pensei em tantas coisas e vi muita coisa da janela

Vi o cara esperar a esposa abrir o portão, o cachorro latir para as pessoas na rua, também vi mulheres bonitas.

O céu estava incrível , parecia que era só para mim, me seguia o olhar , e bocejávamos ao mesmo tempo, como se fossemos um só. Até pegar a chave na mochila e abrir o portão da casa, me senti mal por ouvir rizadas altas que de tão contentes , me deu vontade de voltar para traz novamente, mas não o fiz, entrei em casa e todos os parentes que nem eram meus parentes estavam lá, com minha esposa, sorrindo com vontade que até parecia que nada de ruim eles tinham na vida.

Me sentei na cama depois de apertar as mãos de cada um, e me calei , resolvi apenas observar, como faço com coisas que me importo na vida, como faço quando olho o mundo , quando não faço parte dele. Comentavam sobre a televisão , sobre a vizinha, sobre a tia Rita, o tio zé, o primo fulano etc. Me senti longe de tudo isso, não apenas por acabar de chegar do trabalho, mas longe, distante de tudo aquilo, e nada daquilo realmente me importava, me senti um quadro pintado a mão, uma arte abstrata , que ninguém entende quando vê, fora da terra , mais com os pés cheio dela.

Realmente me esforço para ouvir histórias alegres de sábado em família

mas durante meus devaneios , apenas meu corpo permanece ali ... parado no tempo , vendo a boca se movimentar e babar, ouço os barulhos , barba cerrada, o barulho da coca cola abrindo, e o cão latindo, mas nada disso me traz de volta.

Tempos de cinza e frio , me faz morrer a criança que tentei ser durante 25 anos da minha vida, talvez no próximo inverno eu me torne um adulto de verdade, ou quem sabe uma criança , pronta para ouvir histórias que a vida tem pra contar. Mas hoje prefiro que ela morra lentamente dentro de mim, pois triste me encontro... e felicidade de histórias ,que se-quer

fui um dos protagonistas, não vou aguentar ouvir esta noite.