Fascínio 2

Oscar Wilde era casado e tinha dois filhos. Mais velho um pouco, consta que teria se apaixonado por um garoto lindão. O que lhe rendeu a separação e problemas com a justiça. Que não teria agora quando vivemos outros tempos.

Não terá sido o primeiro caso e nem será o último. Mas na época, como certamente ainda hoje, não era o que esperavam dele, não era a expectativa.

Em meio aos gritos ou proclamações de “Fora Copa, Fora Copa”, agora talvez um pouco menos intensos, a Copa do Mundo segue acontecendo e nos brinda com jogos maravilhosos. Oferecidos por seleções das quais não esperávamos uma participação tão brilhante, tais como Costa do Marfim, Irã, Nigéria, Gana. Acostumados que estamos com as performances das tradicionais equipes sul-americanas e europeias.

E no contágio desses espetáculos futebolísticos, sobressai-se a equipe da Costa Rica, que surpreendentemente já se acha classificada para as oitavas de final sem estar fechada ainda a fase classificatória. O que não era a expectativa. Nisso residindo o fascínio exercido pelo futebol – a imprevisibilidade, a surpresa, o que não se espera.

A Costa Rica pode até não ser a campeã – é o que se espera –, mas ela já representa de certo modo uma decorrência positiva desse torneio aqui no Brasil. Ficamos sabendo que se trata de um país “na lista das 22 democracias mais antigas do mundo”, onde o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) “é o sétimo melhor da América Latina e o segundo da América Central” e onde os níveis de criminalidade são baixos, apesar de serem altos os de pobreza. Lá os costarriquenhos cumprimentam-se com um “pura vida”, ao invés de um “bom dia”. Tem gente por aqui que já começa a sugerir a seus filhos que visitem a Costa Rica. Que até agora representa o inesperado para os brasileiros amantes do futebol. Cuja inocência ou traição emotiva faz com que prefiramos torcer, depois do Brasil, pelos mais fracos.

Nessa hora, lembramo-nos de Oscar Wilde, um dos grande pensadores desse mundo, além de romancista e poeta. Quando diz que “a coerência é a virtude os imbecis”. Afinal, o que é a coerência além do cumprimento ou do acontecimento do que se espera? Trilha mais ou menos percorrida por Nelson Rodrigues, tricolor de carteirinha, reconhecido como um dos nossos maiores dramaturgos, quando disse que “toda unanimidade é burra”. O que, para alguns, teria sido apenas um frase de efeito, destinada a gerar polêmica.

Rio, 22/06/2014

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 22/06/2014
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