Sou uma estrangeira longe de ti.

Sou uma estrangeira longe de ti, por isso sigo pela noite que prossegue incansável, entre as palavras, as palavras sem dono, escritas da ausência para ausência. A tua presença levou a minha nacionalidade, já não pertenço mais ao meu país, assim como não caibo mais no meu lar. A tua presença mais feita de ausência foi retirando todos os espaços conhecidos do universo em que habito. Ao te conhecer o tempo se transformou, bastava uma palavra tua, um mês virava uma semana, uma semana se tornava um dia e duas horas ao teu lado se tornava uma eternidade. Passei a existir fora da sucessão das estações para escapar do desamparo e desperdício de não estares ao meu lado. Às vezes, torna-se impossível pensar que um dia inteiro da minha vida pode se escoar na tua ausência.

Assim vivo a tua espreita esperando o instante que podes surgir com essa luz etérea que te circunda. Todas as palavras sem dono passaram a te pertencer, pois te fizestes eterno nelas. Mas são escritas, ininterruptamente, na tua ausência e pela tua ausência. Escrevo-te. Mas, pra quê? As palavras, os parágrafos e os textos não põem o meu corpo no teu. Tu quando queres. Tu vens e pronto. Tornei-me uma estrangeira a mim mesmo, olho-me e não me reconheço mais, a racionalidade que fazia parte de mim, distanciou-se. Quando chegaste ao meu universo a levaste para algum lugar ao qual ainda não encontrei mesmo que eu circule perdida entre as estrelas da noite. São estrelas que brilham, em desordem, pois jamais consigo arrumá-las numa constelação, pois quando penso em ti, tudo se fragmenta e se desorganiza.

Sigo pelos dias e noites submergida pelo teu cheiro, pelos teus sorrisos e pelo indefinível e transitório amor que citas por mim. Sou uma estrangeira aos olhares masculinos que me seguem, sem conseguir me apreender em nada, pois mesmo sem saberes te pertenço unicamente. Também sou uma estrangeira a ti, pois sei que me olhas, porém não me alcanças, pois não me emolduro nas dimensões que estás habituado. Não entendes, não se aprende a amar, nem se prende o amor, não existe vontade pública capaz de espalhar a paixão ou segurar a paixão,aliás, não há nada de justo neste sentimento. Saibas, meu obscuro amor, a justiça nos sentimentos não passa de um show de classificação do mundo, um palco que inventamos para substituir a irracional lei do coração. Por isso, sou uma estrangeira...

22/06/2014

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 22/06/2014
Reeditado em 22/06/2014
Código do texto: T4854541
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