POR QUE O JOGO EMPATOU??

Em épocas de Copa do Mundo eu redescubro que minha alma é de Deus e explico a razão: sonho com o dia em que todos os povos farão uma competição, duas vezes por ano, investindo muito dinheiro para combater a ignorância, a fome e as doenças nos países pobres ou subdesenvolvidos. Certamente nosso Pai se agradará muito mais disso do que ver Seus filhos rindo, enquanto seus irmãos perdedores choram, ou pulam e gritam por causa de um monte de caras que ganham os burros do dinheiro, até como meninos propaganda, e nem sabem que você existe.

Se eu disser que eu não curto estar com os amigos nessas ocasiões é mentira! Sempre encontramos motivos para, juntos, comermos, bebermos e rirmos. Então, imagine agora, quando por causa da Copa do Mundo, temos tempo de sobra para prepararmos as bebidas e os quitutes!! Nos dias de jogos, enquanto o time não entra em campo, os homens conversam sobre futebol, enquanto nós, as mulheres, colocamos as fofocas em dia. Depois do pontapé inicial eu costumo ir para algum canto, olhar a paisagem, brincar com alguma criança...

Volta e meia, percebo que meus amigos estão vibrando, vejo-os colocando seus dedos médios sobre os indicadores, ouço suas imprecações quando algum jogador brasileiro perde um lance, ou ouço-os evocando santos. Nessas horas, como eu não sou apenas “alma” e ainda não está na hora de ir para o céu (se Deus quiser, vai demorar!!), acabo contagiada, paro para assistir e escolho um jogador para defender: Fred tem sido o meu protegido para desgosto dos machos do nosso grupo. Só de sacanagem comigo, tudo que dá errado no jogo eles dizem que é culpa do meu queridinho. Inveja pura!!

Voltando à evocação de santos católicos, no jogo do Brasil contra o México, Regina Rabello rogava por Santa Bárbara, ardentemente, e pedia que nossa amiga, Kita, lhe trouxesse três ovos crus, representando o número de gols que ela ansiava para o nosso time. Intrigada perguntei-lhe a origem do seu ato e ela informou-me ser aquele um antigo costume de sua saudosa mãe, Dona Anita Paiva Rabello.

Perguntei-lhe se Santa Bárbara gostava tanto das células reprodutoras dos mamíferos e o que aconteceria se elas estivessem cozidas, mas ouvi um sonoro e geral: “Cala a boca, Norma!!”. Ri, pois fiquei imaginado até onde vai a imaginação do povo. Onde já se viu santa ajudar a fazer gols em troca de ovos crus!?!

Enquanto todos se divertiam, fui para o Google pesquisar sobre a vida da santinha e descobri uma história muito triste. No século III, na cidade de Nicomédia, onde hoje é a Turquia, nasceu a filha de um rico e nobre senhor chamado Dióscoro. Quando ela ficou mocinha, com receio de deixá-la no meio da sociedade corrupta daquele tempo, ele decidiu fechá-la numa torre.

Ainda que vivesse enclausurada, por ser muito bela, não faltaram pretendentes para desposá-la, mas ela não aceitou a nenhum. Preocupado com o comportamento da filha, seu pai permitiu que ela fosse conhecer a cidade e, neste dia, ela teve contato com cristãos, que lhe contaram sobre os ensinamentos de Jesus.

Em certa ocasião, seu pai decidiu construir uma casa de banho na torre onde ela morava, com duas janelas. Alguns dias mais tarde, ele partiu para uma longa viagem. Aproveitando-se da sua ausência, nossa heroína ordenou a construção de uma terceira janela e ainda por cima mandou esculpir uma cruz sobre a fonte do jardim. Para que ela foi fazer isso?! Quando o seu genitor viu aquilo “virou bicho” com ela, perguntou-lhe a razão e, ao saber da nova crença da filha, o sujeito revoltou-se por ela ter tido a coragem de não adorar os deuses do Olimpo.

Canalhamente, ele decidiu denunciá-la ao prefeito Martiniano, que a mandou torturar numa tentativa de a fazê-la renunciar à fé cristã. Como ela não cedeu, foi condenada à morte por degolação, e, acreditem, a sentença foi cumprida pelo seu próprio pai. Dizem que quando a cabeça da nossa santa rolou pelo chão, um imenso trovão estrondou, fazendo tremer os céus. A seguir, um relâmpago flamejou e, atravessando os ares, fez cair por terra o corpo sem vida de Dióscoro. Bem feito, se lascou!!

De lá para cá, Santa Bárbara passou a ser considerada a protetora contra os relâmpagos e tempestades, e é considerada a padroeira dos artilheiros, dos mineiros e de todos que trabalham com fogo.

Eureka!! ARTILHEIRO!! Essa palavra tem duas acepções: “militar pertencente à artilharia dos exércitos”; “aquele que, no jogo de futebol, é perito em fazer gols”. Acho que entendi a invocação de Regina, mas considerando o placar de zero a zero entre Brasil e México, concluí que, ou nossa Santa protegeu os artilheiros dos dois times, ou não gosta nem um tiquinho de ovo cru.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 25/06/2014
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