O SAUDOSO AMIGO TADEU

Chamava-se José Tadeu de Paula. Certa vez, estávamos todos reunidos no bar do Pedrinho e, enquanto eu bebericava uma Coca Cola, conversava com meus amigos a respeito dos planos para o sábado que se aproximava:

“Gente, onde ‘nóis’ dança? -falou Totonho.

Edson, encostado no balcão e fumando o seu cigarro, respondeu: “Eu sei de um lance ai. Fui convidado para um baile lá no bairro Conforto.” Sempre que isso acontecia, o convite era extensivo a toda a turma e ai de quem não participasse o fato, a bronca seria geral!

Mas era comum que todos participassem. Já passava das seis horas da tarde e o papo transcorria na mais perfeita paz e harmonia..

.até que um grito se ouviu ao longe:

Vasco!! ///Hu-rra!!/// Quem é o bom da boca do final?

Vasco!!///Hu-rra!!! /// .”

Pronto! Acabou a tranquilidade. O dono daqueles gritos de guerra não poderia ser outro: nosso amigo Tadeu!

Ele trabalhava a semana inteira num serviço pesado lá no S.A.A.E. durante toda a semana, era bem calmo e pacato.

Além do mais, era de pouca conversa.

No futebol, fazia o meio de campo de nosso time e era considerado um bom jogador. Seus passes eram quase sempre endereçados a mim e muitos dos gols que marquei era ele que me descobria livre entre os zagueiros.

Tadeu era uma figura! Dominava a bola no meio de campo e, de primeira, lançava: “Vambora cambada!

Faz, Anésio!” Assim era nosso saudoso amigo, sempre muito educado. Mas, quando chegava sexta-feira, saía do serviço com seus colegas de trabalho e enchia a cara.

Era esse o seu vício. Era desse geito que ele chegava ao bairro.

Quando isso acontecia, ele se transformava. Aquele rapaz calmo e educado dava lugar a um bêbado que gostava de arrumar encrencas.

Agora ele também era valente e uma vez deu uma paulada na cabeça do Aílton, que havia feito uma covardia com ele.

Foi assim:

O Aílton estava bastante embriagado e, junto com seu irmão Helvécio, cismaram de dar um banho, pasmem os senhores de álcool no Tadeu.

Isso só não ocorreu porque eu prontamente intervi e o tirei de lá. No outro dia, ele ficou sabendo; esperou o Aílton e deu-lhe uma paulada.

-“Eita Lima Duarte, sô!

Lima Duarte era o nome que ele dava ao porrete que trazia consigo.

Se, por acaso, estivéssemos em um baile e ele descobrisse, era o maior sufoco.

E foi assim que em um baile na casa do seu Paulo, um amigo de seu pai e conterrâneo lá de Lima Duarte, Vejam o que ele aprontou:

O baile estava animado e todos nós divertíamos bastante. Tudo ia bem até que ele chegou:

Chamou uma jovem para dançar e esta, que já conhecia a fama dele, ficou com medo mas, para não arrumar confusão, aceitou a dança. “Ston-ton-ton, ston-ton-ton”- fazia ele com a boca e, levantando lateralmente ora o pé direito ora o esquerdo, rodopiava pela sala da casa . O mais engraçado foi que, ao chegarmos, Seu Paulo perguntou por ele e o Gaspar, que era seu irmão, disse que o Tadeu estava maneirando na bebida.

Eu quase soltei uma boa gargalhada naquela hora.

Se o Seu Paulo visse como o tínhamos deixado lá na praça do final do Retiro...

Infelizmente, ele não durou até ver aqui e no meu livro a sua historia . Anos mais tarde, veio a falecer vítima de tuberculose.

Nossa ultima conversa foi no dia anterior a sua morte onde tive a oportunidade de falar sobre Jesus para ele.

O Jesus que conheci numa igreja onde o próprio, um dia me convidou a visitar, embora não a frequentasse.

Saudade, querido amigo.

Vasco-o!! Quem era o bom da boca do final ?

ANESIO SILVA
Enviado por ANESIO SILVA em 27/06/2014
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