Profissão: perigo

Na pia batismal, ele recebeu o nome de Sebastião que, logo, a garotada resumiu para Sebá. Menino inteligente, ele se destacava nos estudos e sentia-se importante ao ajudar os colegas que tinham dificuldades com números e com a gramática portuguesa. Suas aptidões e conhecimentos causavam inveja nos meninos e admiração nas meninas. Sebá fazia verdadeiro sucesso com as mulheres.

Ivone, uma prima, recorria a Sebastião para entender os mistérios contidos nas equações e logarítimos. Ruivinha e sardenta, Ivone era um charme. Não foi àtoa que as aulas de álgebra se transformaram em amassos que, logo, evoluíram para intimidades maiores.

Sebá e Ivone, meio às escondidas, levaram aquele affair por muitos anos. O cursinho pré-vestibular e a faculdade de direito se passaram entre livros e aconchegos.

Aprovados nos exames da Ordem, os dois obtiveram êxito em concurso e foram nomeados juízes. Apesar de atuarem em varas diferentes, os encontros amorosos não foram interrompidos.

Depois de algum tempo, os olhos de Sebá recaíram sobre Aninha, funcionária recém admitida na sua repartição. Um almoço, um jantar e um cineminha eventual desembocaram em planos de casamento e amor eterno. O doutor juiz, entretanto, continuou a encontrar-se com a prima. Como resistir à beleza e exuberância daquela ruiva?

Sebá casou com Aninha e, no início, dedicava-se exclusivamente à esposa.

“A vida é a arte do encontro”, dizia Vinicius. O juiz cedeu aos apelos da carne e arrastou Ivone à prevaricação depois de tê-la reencontrado num evento social do judiciário.

Seguindo a linha Mcgiver, ele pasou a enfrentar o perigo de receber telefonemas furtivos do mulherão em que a juíza tinha se transformado. Algumas vezes, surpreendido pela esposa em meio a estas conversas, ele conseguiu escapar:

- Quem era? – Perguntava Aninha

- O Felipe, ex-colega de faculdade. – enrolava Sebá. Espertamente, o juiz gravou o nome do amigo fictício junto ao número de Ivone na agenda de seu Motorola.

Sebá pensava navegar em céu de brigadeiro, mas os telefonemas e as saídas misteriosas deixavam Aninha com a pulga atrás da orelha.

Num domingo de Páscoa, Sebastião e Ana resolveram oferecer um almoço para amigos. Ivone e sua família faziam parte do rol de convidados. Os dois amantes não estavam nem aí: saberiam como se comportar e tinham certeza de que seus segredos estavam protegidos a 7 chaves.

Na sala de estar, alguns convidados já se deliciavam com aperitivos quando tocou a campainha. Aninha abriu a porta e, à sua frente, em insinuante e vaporoso vestido amarelo, surgiu a figura de Ivone. A dona da casa empalideceu frente àquela máquina feminina e, assustada, dirigiu-se ao marido:

- Sebá, o Felipe chegou...

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 13/05/2007
Reeditado em 13/05/2007
Código do texto: T486145