A TRAVE É BRASILEIRA

A TRAVE É BRASILEIRA, disse hoje Galvão Bueno. O que posso dizer? O que é esta seleção brasileira, antes de ser um time com quatro atuações fracas nesta Copa; um grupo que pode até vir a ser campeão, mas que, de fato, até o momento não mostrou nem talento nem conjunto? Um grupo de moços – bem moços – que deixaram o país, indo ganhar a vida na Europa. Ora, esses rapazes simpáticos e “do bem” não são, a meu ver, exatamente exemplos para a nossa juventude. Ficar rico sem estudar não é uma realidade. Aliás, ficar rico não é uma realidade, mas uma rara exceção à realidade. Nasce-se rico, isto sim. Mobilizar toda uma nação em função desses rapazes é uma insanidade coletiva. Precisamos de outras coisas. Precisamos de mais educação e menos futebol. O futebol é um jogo, e um futuro não se constrói jogando, apostando, contando com a sorte, contando com a trave, mas sim estudando e trabalhando.

O povo ama os esportes. Ama futebol e, no fundo, queria, sim, uma Copa do Mundo no Brasil, como forma de premiar o país do futebol com um grande evento internacional; diante disso, e do sucesso que é a Copa, não dá pra dizer que sua realização se deve a uma ação arbitrária e unilateral do Governo de Dilma Rousseff: governos federal e estaduais, corporações e mídia sabiam, de antemão, que o povo se encantaria com o Mundial, e que ele, o povo, secretamente, concorda com o ex-jogador Ronaldo ao dizer que uma Copa não se faz com hospitais. Futebol é mais importante que saúde pública; os brasileiros, de norte a sul, vem dando mostras de que concordam bastante com isso. Afinal, nosso futebol é um sucesso histórico, com cinco Copas no currículo. O futebol canarinho se apresenta como nossa redenção. É como dizer: “podemos até ser um pais com alguns dos piores serviços públicos do mundo, mas temos o melhor futebol”. Somos um sucesso.

O sucesso no esporte, contudo, deveria ser uma consequência de um país forte, não uma improvável alavanca de um almejado progresso, que nada teria a ver com jogos. Religião, carnaval, futebol: estas coisas não resolvem efetivamente nossos problemas; sendo destes três, o futebol, bem provavelmente, o menos eficiente neste sentido. A Copa é, no máximo, uma licença poética de um mês, dentro do nosso real quadro social que tanto carece de justiça. Então o que fazer, Brasil? Tenho uma dica, que, obviamente, não será ouvida – na verdade é um mero palpite de um brasileiro que anda confuso com o atual estado de coisas: estudar muito é o que devemos fazer. Deus não é brasileiro; nem a trave: precisamos estudar, trabalhar, avaliar e examinar a vida, e, assim, construirmos nosso futuro, sem depender da sorte e de milagres. Enquanto o país de desfaz em torcedores neste carnaval de um mês, as escolas estão paradas. É assim que seremos o país do futuro? Este é o exemplo que temos para nossa juventude? É esse o legado?

(L.F., Mendes – RJ, 28/06/2014)