Retrato insólito de mim mesmo

A história que eu vou contar agora, nunca ninguém contou (talvez seja a primeira e única idéia original que eu venha a ter ao longo dessa minha plagiatória vida) e, se a maneira como eu me retrato agora é insólita, o leitor descobrirá logo o porquê.

Se existe uma coisa que eu sei fazer muito bem é plagiar, aliás, isso vem de família. Quando eu nasci, meus pais plagiaram o nome da criança que estava ao meu lado no berçário: João. Cresci plagiando meus amigos, familiares e até desconhecidos.

Na infância, eu copiava os desenhos dos meus colegas, as brincadeiras, enfim, tudo o que fosse possível copiar. Depois fui crescendo e comecei a ir plagiando pelo mau caminho: o modo de falar, de andar, as tiradas geniais e as gírias que os meus amigos repetiam a cada frase de quem quer que fosse. A melhor parte do curso de “especialização em técnicas de plagio” era nada mais, nada menos, que a velha conhecida dos tipos mais preguiçosos: senhoras e senhores, eu lhes apresento... A “cola”! E essa era uma das matérias que eu sabia como ninguém. Se hoje eu sou formado, devo muita coisa a essa utilíssima ferramenta de plágio.

Mais tarde, eu passei no vestibular (colando, é claro) e fui plagiar na faculdade. Ah... Bons tempos aqueles: plagiava trabalhos, provas e até mesmo pensamentos (eu já tinha no plágio uma arte das mais refinadas). E, continuando nesse caminho, terminei a faculdade.

Já no auge da minha corretíssima vida eu fui trabalhar. Adivinhe o que foi que fiz mais uma vez? Acertou em cheio se disse plágio! Bom, nessa etapa dos acontecimentos se encontra minha vida atualmente. E eu continuo plagiando tudo e todos, por exemplo: esse tema eu plagiei, a idéia de um cronista... Até a palavra “plágio” eu copiei de algum lugar...

Por fim, cheguei a uma conclusão (talvez seja a única coisa realmente original que exista dentro de mim durante a minha longa vida). “Sou a pessoa mais original que conheço, afinal sempre vemos por aí pessoas que são originais, certo? Bem, se todos são originais, estão plagiando uns aos outros porque é absolutamente normal ser original. Esse é, no meu ponto de vista, o grande X da questão: nunca vi ninguém como eu, logo, o fato de eu não ter personalidade própria me torna original!”

Chego ao fim dessa interessante história na qual deixo minha imensa contribuição para a posteridade com a afirmação de que é completamente normal ser diferente. Todos vocês são privilegiados por presenciarem, nesse momento, a criação de um novo pensamento filosófico: a linha de raciocínio lógico-eclético-paradoxal.

Ana Pismel
Enviado por Ana Pismel em 14/05/2007
Código do texto: T486271