O LOUCO

Diz que era um louco que vivia numa cidadezinha. Ele vivia gritando pela cidade:

- Eu sou louco, sou louco! Sou louco de tacar pedra em avião!

Os transeuntes ficavam pasmos diante do discurso do doido “que passeia pela cidade sua loucura mansa. É reconhecido seu direito à loucura. Sua profissão” (Carlos Drummond de Andrade).

Assim, era a vida “subir Bahia e descer Floresta". O nosso “Dom Quixote” foi internado diversas vezes no sanatório. Se fosse hoje, ele não iria, as coisas mudaram no tratamento da loucura. Não se deve segregá-lo do convívio social e familiar. Por conseguinte, é o que foi colocado na reestruturação da assistência psiquiátrica brasileira. Entretanto, a discriminação ainda existe, sabemos que nosso país “bate um bolão”.

Nos últimos tempos, o doido andava com uma enxada sem cabo pela cidade (“cada louco com a sua mania”). Sorrateiramente, aproximei-me do nosso “Artur Bispo do Rosário” e disparei uma pergunta (dessas de supetão! A resposta é que assustaria o Philippe Pinel):

- Por que você não coloca um cabo nessa enxada meu jovem?

- Não fiquei louco doutor! Se colocar o cabo, hoje ainda a turma vai me mandar capinar o mato!

Osório Antonio da Cunha
Enviado por Osório Antonio da Cunha em 14/05/2007
Reeditado em 14/05/2007
Código do texto: T486430
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