Fases Mulher

Maria Antônia Canavezi Scarpa

Minhas esperanças são veios que percorrem o meu eu, algozes vorazes me protegendo das fragilidades e inseguranças que costumam assolar vertiginosamente as mulheres, ainda mais quando sentem medo . Vasculhei todo o meu ontem e nada encontrei de vitórias, apenas parcas experiências individuais na medida que brigavam as alterações dos meus hormônios, biologicamente corretos. Incrível como faz falta a progesterona na dosagem certa para o meu equilíbrio, como refém dela quase me tornei uma névoa já que fiquei opaca, seca, quase definitivamente esquecida. Foram tantos anos de muitos planos, poucas regras e farta imaginação, imersas em frascos cada um com naturezas diferentes, sempre me questionando quimicamente se sou o que realmente queria ser.

Tive muitos fascínios, mas todos barrados pelo medo, daí grande parte das minhas realizações ficarem à deriva, sem grandes ou mínimas respostas.

Evolui sim, e não foi tão pouco, mas muitas vãs tentativas acabaram com sabor de fel e as achei doces, por pura conveniência.Por ser forte provei na verdade ainda assim alguma coisa, mas tanta coisa ficou para trás, efeito preconceito e aquela maldita palavra : medo que sempre fez a diferença.

Mesmo assim não me anulei, curiosamente o tempo passou e ainda passa, porque estou viva e dentre tropeços fiquei ocupada mantendo a vida. Por alguns motivos até me achei sábia, por outros uma grande tola idealizando projetos que jamais passaram de esquemas, sem execução. Por vias de regras evolui, pouco..., acho que não, mas sacrifiquei os meus neurônios mais salientes, deixando-os presos sem poder fazer uma sinapse bem desenvolvida.

Agora a menopausa chegou absolutamente correta, novamente os hormônios imperam e sabem interagir na nossa idade e deliciosamente... podando grande parte dos nossos anseios, brigas com espelhos, sombras que fazem os olhos lagrimejarem, dores salientes, milhares de desculpas para justificar o que podemos e não podemos, até rindo um pouco dos nossos fracassos, dizem assim as más línguas : - são coisas da idade e temos que suportar.

Será que tive mesmo escolhas, definitivamente ainda me coloco em cheque. Pode ser que em algum lugar do passado, tenha feito charadas comigo, inventei tantos sonhos, todas essas alternativas voltadas para a sedução e realizações, acreditando no papel de grande mulher. Tolices que resultaram em experiências vagas.

Qual a regra para enfrentar tanta turbulência nas mudanças de idade? Sossegar, domesticar-se, fazer trabalhos manuais com os óculos pendurados na ponta do nariz, cuidar dos netos (esses ainda não tenho, mas adoraria ter), não pode ser somente essas as regras.

São grandes os artifícios que se usados sabiamente, podem trazer confortos e assim não me esconder para omitir mudanças, será que farei plásticas (dinheiro não tenho, mas hoje se financia em carnês a perder de vista), silicones já uso G, lipoaspiração, tem que ser geral e irrestrita, por enquanto vou no regime absoluto.

O fato é que eu sei e você sabe , a realidade é doida quando se contesta, com arrogância ou simplicidade, porque sabemos que outras alternativas são mentiras.

Agindo assim arredia, vou lutando com os meu temores e ardilosa vou usufruindo dos hormônios bons que me restam, para minha segurança vou repondo os que estão capenga até que de vez seja derrotada. Daí não vai ter jeito é encarar a bicha brava de frente

e se fazer de surda.

Aqui assino

Tília Cheirosa
Enviado por Tília Cheirosa em 14/05/2007
Código do texto: T486431
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.