Parábola do velho pássaro

Era uma vez um pássaro jovem, vistoso, valente e voraz, promovendo constantes vôos rasantes e destemidos para impressionar a sua fêmea encantadora e convencê-la a voar junto com ele por prados distantes e florestas mágicas, onde fariam um belo ninho para conceber e criar filhotes que pudessem repetir suas façanhas pela vida. Enfrentaram a oposição dos ventos e os fortes vendavais! Fizeram pousos forçados em muitas paisagens e assim conseguiram fazer um ninho, meio intinerante é verdade, mas não deixou de ser um ninho. Muitas estações passaram, seus filhotes ganharam penas, fortaleceram asas, aprenderam a voar e começaram a repetir as peripécias de seus destemidos ancestrais. Como era de se esperar, embora nunca se espere, voaram para bem longe, fora do alcance de seus olhares. Agora o velho pássaro está solitário, a fêmea também voou e não haverá nem outros ovos para chocar nem outros filhotes para alimentar. O coração do velho pássaro bate descompassado, em meio a corrida de duas emoções paralelas. Uma é a tristeza pela solidão e sensação de perda que é inevitável em situações semelhantes. A outra é a sensação de vitória e alegria em descobrir que seus filhotes são absolutamente iguais, jovens, robustos, destemidos e vorazes e se propõem a repetir os mesmos vôos rasantes e destemidos, em aventuras parecidas, em busca de emoções igualmente fortes. Ao entoar seu canto solitário o velho pássaro o transforma em oração, para pedir aos deuses que protejam seus filhotes, de temporais e predadores para que possam pousar em paz no seu destino.

Ney Ferreira
Enviado por Ney Ferreira em 01/07/2014
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