Instantes Incertos

Noite de terça-feira.

A lua está crescente, rodeada de estrelinhas.

Estou nesse momento na varanda do meu apartamento, mais precisamente no décimo segundo andar. Olho a rua, movimentadíssima, cheia de carros passando, gente ocupada, o vento sopra fraquinho, mas bem frio e úmido em meu rosto. Observo o vazio do horizonte, vazio como minha casa nesse instante, o oposto do meu coração preenchido de saudade.

O jantar está pronto, eu mesma ponho à mesa, bem posta, coloco mais um prato, um copo, e um jogo de talheres. Cuido do risoto que preparo cuidadosamente.

São mais de oito e trinta da noite, sento para assistir ao jornal, sozinha. Vejo que no decorrer do tempo, ninguém chega pra me fazer companhia, a não ser a saudade e a solidão, que chegam pateticamente para sentar-se a mesa comigo.

Mais uma vez estou jantando sozinha, parece uma bobagem não é?! Mas tanta gente faz tantas coisas sozinhas. Convivem consigo próprias, e até se acostumam, mas eu, incrivelmente não consigo me habituar a isso.

Pra mim não há algo que me doa mais do que não ter companhia para jantar, mas, por que só jantar?

Porque na maioria do dia sempre estamos acompanhados de alguém do trabalho, algum amigo, ou sabemos que logo em seguida temos um compromisso urgente, e até esquecemos que estamos sem alguém ao lado, porque a pessoa que você ama, na maioria das vezes, também está ocupada com afazeres parecidos com os seus, sempre o tempo!

Tempo! Tempo! Tempo!

Ele se esvai segundo a segundo, causando um descompasso até ritmado na gente!

Ah! Tempo! Ingrato, insensato... E são nessas horas de solidão que ele insiste em ter os segundos mais longos do dia...

Sento-me à mesa. A televisão está ligada. O jornalista dá "boa noite" e eu como no cúmulo da saudade, e solidão, respondo. Talvez para me sentir menos só.

O lugar da mesa que eu gostaria que estivesse ocupado por quem amo, principalmente, está vazio mais uma vez e mais uma vez retorno a solidão vazia dos meus dias e noites.

Nesses tempos que as inversões de valores se acumulam sem cessar, que as transformações de vidas, e sentimentos acontecem mais rapidamente, estou eu, sem o abraço sincero e o beijo emocionado do meu amor. Sem a companhia mais certa, dos meus instantes incertos.

Choro por dentro.

Mas não há mais tempo pra chorar, o jantar acabou, a solidão se sentou, e agora a louça está suja pra se lavar.

Amanhã, talvez, ou depois de amanhã quem sabe, esse alguém senta no lugar da mesa que reservei, e assume de vez meu coração.

Priscilia Nascimento
Enviado por Priscilia Nascimento em 08/09/2005
Reeditado em 09/09/2005
Código do texto: T48695