Ainda estamos nesta lida

Já dizia o mestre Darcy Ribeiro que os homens ou vêem a vida como uma grande obrigação e vivem para o trabalho e produtividade, ou vêem a vida como um grande presente, uma alegria constante para ser gasta com muito ócio e com as delícias que nos aparecem pela frente.

Eu, francamente, sem querer exagerar e assumindo que trabalho muito e gosto do que faço, luto ferrenhamente para pertencer ao segundo grupo.

A vida é pra viver, camarada, como cantava Vinicius de Moraes:
 
"você que só vive pra juntar, o que que há,
diz pra mim o que é que há?
Você vai ver um dia, em que fria você vai entrar..."

Em seu livro Lições de Coisas, Darcy conclui um texto com o parágrafo:

"Os brancos, ao chegarem aqui, encontraram meios de obrigar os índios a entrar no trabalho de sol a sol, para produzir o que eles exigiam. Nisso mataram milhões de índios e, depois, milhões de negros que, aos seus olhos, viviam vadiando na África.

Somos os descendentes daqueles índios e daqueles negros, avassalados para servir à ordem econômica que só se preocupava em produzir gêneros para exportar. Seja açúcar para adoçar a boca dos europeus. Seja ouro para enriquecê-los.  Ainda estamos nessa lida."

Muita gente ainda está nessa lida, caro mestre.