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CRÔNICA DA VIDA
  
                                 
 
A droga não me tocou. Jamais senti seu cheiro, gosto ou sequer a vi desfilando maldades. Sei que é destruidora por natureza. Tem um jeito macio de chegar, prometendo alegrias, viagens além da imaginação.
 
Sem ser chamada, entrou em minha vida e deu desviada na rota do meu destino.
 
Priscila não teve escolha. Descobriu que seus manos e ela haviam sido retirados dos pais. Proteção para as vidas – disseram. A fome os mataria. Foi crescendo com a fome mitigada. Mas não era feliz sem os pais e os manos.
 
Aos treze anos, fugiu do abrigo para menores. Próximo dos quatorze, teve o primeiro filho, logo dado em adoção. Conheceu a droga junto com o amor. Vieram três filhos. Um morreu ainda bebê. O amor foi para a prisão, por tráfico de drogas.
 
Tendo aprendido a traficar, ficou de sucessora. Era discreta e pequena para ser percebida pela polícia. Encontrou outro amor. Intensificou o tráfico, descuidou-se e foi presa em fragrante.
 
Deixou três filhos e levou um em gestação.
 
Neste compasso do relógio é que nossas vidas se cruzaram. O bebê, ao completar oito meses, veio para minha companhia.  Posteriormente, mais duas de suas meninas vieram.
 
Priscila perdeu tudo: o amor, os filhos, a residência e a dignidade. Hoje, é moradora de rua, portadora de tuberculose, pesando 20 quilos, na flor dos seus trinta anos.
 
A droga roubou-lhe tudo.
 
A mim, trouxe três tesouros, três responsabilidades, três destinos, acrescentando-me a felicidade que roubou de Priscila.
 
Por quê?



 
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 06/07/2014
Reeditado em 06/07/2014
Código do texto: T4871934
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