Flashes da Copa II


Tudo pronto para o início do jogo Brasil e Alemanha.Ao contrário da primeira crônica que escrevi sobre o segundo jogo da Copa,o restaurante que escolhemos estava lotado.A mesa que nos restou foi uma coladinha à televisão, o que nos dava uma posição desconfortável para assistir à esperada partida.Mas nada que o nosso imenso amor à Pátria não nos fizesse ainda agradecer a sorte de achar uma mesa disponível.

Temperatura local aumentada pela multidão e pela expectativa,pedimos logo uma cerveja.Coloquei o meu colar de havaiana verde e branco no pescoço para completar o meu look Copa das Copas.Assim fiquei uma perfeita “canarinha brasilis”:calça verde bandeira,blusa branca com a bandeira cobrindo toda a frente,brincos de bandeirinhas e o coração mais amoroso possível.

Com a minha câmera nas mãos (já não saio de casa sem ela),fui fotografando todo o ambiente,todas as pessoas,assim como registrei a entrada das seleções em campo.Fotografei a entrada triunfal e sorridente dos alemães,o hino,os torcedores da Alemanha também.Depois,já muito emocionada,cliquei na nossa seleção.E assim que o nosso hino começou,ainda com a câmera nas mãos,percebi que o meu vizinho de mesa começou a entoar o hino tão fortemente que contagiou a todos os presentes.Deixei a minha câmera de lado e cantamos juntos e com muita emoção o hino de nossa Pátria.Aí os meus olhos já estavam marejados pela linda surpresa de um hino à capela tão nosso.
Assim,com todos os olhos voltados para os vários aparelhos de televisão espalhados pelo ambiente, teve início o jogo que, mesmo de forma diferente do que esperávamos,entraria para a história do futebol definitivamente.

E veio o primeiro gol da Alemanha,assim de súbito,a gente sequer tinha se refeito da cantoria do hino.Não acreditei .E de repente outro.Virei o rosto para um lado para não ver mais nada,virei para o outro.Não adiantava,pois os televisores pipocavam no salão.No terceiro,não agüentei.Fugi para o banheiro para chorar sem sentir vergonha.Antes,olhei para o meu vizinho de mesa que,apesar de ser bem moreno,estava pálido e tinha os olhos vitrificados diante da televisão.Quis dar uma força pra ele,mas primeiro eu precisava cuidar das minhas lágrimas que já me escorriam pela face.Fiquei um bom tempo no banheiro,bem quietinha.de vez em quando entrava uma pessoa,mulheres jovens,senhoras,crianças.Algumas fungando disfarçadamente,outras sérias.E eu lá no meu cantinho.Uma jovem se atreveu a perguntar por que estava ali quietinha daquele jeito.Eu respondi que estava tentando me acalmar.E ela me respondeu:fica triste não,por que já está cinco pra eles.Tem mais jeito não!

Como assim! Meu Deus! Uma escapadinha no banheiro para me recuperar e já sofremos mais dois gols?O que é isso?

Respirei fundo e retornei à minha mesa.Me juntei aos amigos que ali se encontravam e me postei perplexa diante da TV.Quando o meu vizinho de mesa chamou-me para conversar.Aí percebi que ele tinha sido meu vizinho de fato,mas não o reconhecera.Voltei-me para ele e pude sentir o quanto estava prestes a se debulhar em lágrimas,o tanto que aquela derrota acachapante havia mexido com a sua brasilidade.
E quase no final,Alemanha completa o massacre e faz mais um:7X0.No finalzinho mesmo,Oscar faz o nosso gol de honra,suado,sofrido,mas também um bonito gol.
Sempre tive dois hábitos para resgatar minha tranqüilidade emocional: conversar e escrever.Então passei a conversar com o meu ex-vizinho e companheiro dessa histórica e triste partida da Copa.

Aí vem a graça da coisa.E não é que naquele homem emocionado,tanto ou mais que eu,pude perceber um cidadão da melhor qualidade?Ele me fez uma análise interessante do jogo,não achincalhou os jogadores e,mesmo tecendo críticas à comissão técnica e principalmente ao Felipão, não o fez com ódio,como se ali estivesse sendo decidido o futuro da nação.Falou,desabafou e,certamente,assim como eu,voltou mais leve para casa.

Tenho contado aqui em minhas singelas crônicas,sempre baseadas em minha rotina de vida bem prosaica,que sou uma caçadora de ternurinhas.E,por incrível que pareça,sempre as encontro,em qualquer lugar.Desta vez,foi um hino à capela inesperado,iniciado por um ex-vizinho de casa e atual vizinho de mesa e uma conversa amena e emocionada depois de uma derrota para a Alemanha por 7X1.

Foi muito bom ter reencontrado um ex- vizinho que, assim como eu e os amigos que lá estavam, se emocionam com a seleção,estão com ela nas vitórias e nas derrotas e,principalmente,seguem amando o Brasil incondicionalmente

Ah, esqueci de dizer que as fotos que comprovam essa minha história não existem.É que depois do primeiro gol (que eu jurava que seria nosso),não quis fotografar mais nada.
amarilia
Enviado por amarilia em 09/07/2014
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