CAMINHADA COM ANDORINHAS

Domingo ao início da noite, acabei de chegar a casa, de mais uma caminhada, obrigatória para ir tentando manter, ou melhor recuperar, a forma física e também a mental.

Há um local quase deserto, onde gosto de caminhar, nas traseiras da minha urbanização, ou do meu bairro como queiram interpretar, que segue a chamada linha de água, ou seja passa por cima e ao longo das condutas da Epal, Empresa Pública de Águas de Lisboa, ou seja a empresa abastecedora de água. É no meio do campo, mas á vista das casas e dos prédios, ou melhor das traseiras das casas e dos quintais.

Mas a natureza invade tudo, a vegetação está exuberante, os silvados ocupam todos os espaços, os arbustos ultrapassam as árvores, que por sua vez, chegam ao tamanho dos prédios e as urbanizações que ficaram apenas nas infraestruturas, á espera das moradias, que não chegaram a nascer, vêm os candeeiros inúteis serem desligados, os arruamentos vazios de carros definharem, as palmeiras e as mimosas e outras árvores ornamentais, transformarem os espaços ajardinados, em florestas tropicais.

Mas ao entardecer, vendo o sol descer incandescente por trás dos ramos das árvores, a caminho do mar, com os seus raios ofuscantes, e após os Últimos raios de luz se apagarem, o local agora a caminho do crepúsculo, é envolvido por uma atmosfera mágica.

Durante alguns minutos, os últimos raios do sol poente, iluminam ainda o céu e as nuvens, e as águias sobem e descem, volteando nas correntes ascendentes, as suas longas asas iluminadas pela luz remanescente, e os aviões que voam lá no alto, nas rotas da aviação, cruzam-se rebrilhando como pássaros prateados, minúsculos na sua altitude de cruzeiro.

Mas ao longo do caminho de terra batida e saibro, invadido pela vegetação e por alguns regatos de água que o atravessam, são as andorinhas as minhas companheiras agora. Voam baixo, rasando a terra ao longo do trilho, penso que para procurarem o jantar constítuido por insectos voadores e também rastejantes, que não distingo, mas pressinto. Só as vejo virem velozmente na minha direcção e chegando pertinho subirem rápidamente, fazendo uma tangente á minha pessoa. Elas passam tão perto e são tão velozes, que vejo distintamente as suas penas e ouço as suas vozinhas trinadas. Quase podia tocar-lhe e fazer uma festinha, se a sua rapidez não ultrapassasse em muito a da minha mão.

Mas a sua companhia é uma carícia também para a minha alma e para a minha visão. De todo o lado elas vêm, trinam e esvoaçam á minha volta, nada incomodadas com a minha presença, tal como eu aprecio a delas.

E assim chego a casa, ao cair da noite, com o exercício físico do corpo e o exercício mental da alma repleta de alegria pelas companheiras aladas, que desde criança aprendi a amar.