O som alto dos vizinhos

Quando rolei de um lado para o outro na cama era porque não conseguia dormir. Nem era insônia, não. Era um barulho insuportável como que de latas e tambores batendo junto com alguém gritando. Ah! Era um maldito funk! Não tenho exatamente nada contra quem ouve e o que ouve, mas como se ouve. É que era a 00h40min! E em plena segunda feira. Aquele barulho infernal penetrava até a camada mais delicada do meu fino pensamento.

O que faz alguém pensar que outros não têm os mesmos direitos? O que o faz pensar, se é que pensa que outros querem ouvir a mesma coisa? Talvez pense que o que ele está ouvindo é bom demais e que todos também estão curtindo. O seu direito termina onde começa o meu? Mas o direito de quem incomoda não tem rédeas, não tem princípio nem lei. Age atropelando o bem estar do seu próximo. Será que deveríamos culpar o governo? A educação que a escola não ensinou? Os bons modos que não aprendera dos pais? A vida sofrida da própria vida? A desgraça que é a vida? Então só porque estou chateado, nervoso, deprimido, apaixonado, ou no mundo da lua isto me da o direito de ferir os ouvidos do meu vizinho?

Aí vem um infeliz e me pergunta:

Mas, Geovani porque você não liga o seu som também mais alto ainda?

Porque, meu filho eu não tenho que me rebaixar ao mesmo nível. E já pensou se todos os vizinhos fazem a mesma coisa? Que inferno não seria!

Ah, Mas a música é muito mais do que isso em uma pessoa. Ela estimula o indivíduo de uma maneira que nem ele mesmo apercebe. Que tal uma bem deprimente? Que se repete uma cinco vezes ininterruptamente ao último volume? Onde todas as mazelas do indivíduo são expostas. Onde suas fraquezas soam. Aquela que ele acha que o consola profundamente enquanto esquece-se da sua própria vida ruim? O ouvinte daquela música se envolve de uma maneira tal que ele acha que vai mudar o mundo. E querem te converter, mas o que ele consegue no mínimo e deixá-lo com raiva. Talvez uma música que seria boa se torna desagradável por tanta repetição.

Engraçado é que cada música revela uma deficiência que a pessoa tem. Uma traição, uma paixão secreta por outra pessoa, um relacionamento afetivo deficiente na sua própria casa, o desemprego, problema no casamento, rebeldia dos filhos, marido frio, ódio e a própria carência. A música que habituados a ouvir em último volume constantemente tem muito a contar a ouvidos atentos. E ainda tem aquela que é especial, a que se está ouvindo relativamente baixo e de repente aumenta o volume na parte exata, naquele refrão, ou naquela melodia melancólica.

Então, meu amigo se não acredita, pare para se observar enquanto curte àquelas músicas que mais gosta. E verá o quanto ela conta sobre o que você está passando. E talvez vá passar a ouvir só para você na próxima vez. Porque tenho certeza de que ninguém está interessado em ouvir as mesmas coisas que você.

Geovani Silva
Enviado por Geovani Silva em 19/07/2014
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