VERGONHA ALHEIA

Existem diversas maneiras de sentir vergonha essa sensação esquisita que quando a gente sente não sabe onde enfiar. Exceto é claro aqueles que não têm vergonha nenhuma; nem meio pingo de vergonha. Quem sente vergonha sente-se arrasado, infeliz e desorientado; alguma coisa essa pessoa deve ter feito – ou deixado de fazer – que esse sentimento pode roer-lhe as entranhas.

Há outro tipo de vergonha, a chamada vergonha alheia, tão comum hoje em dia que o efeito é passageiro. Todo mundo comenta na hora e depois vai passando até a próxima.

Essa vergonha, a alheia, como diz o nome, vem de fora da pessoa envergonhada; foi cometida por outrem que não o envergonhado. Geralmente as causas são profundas e vem de longo tempo; mas a gente só sente quando ela estoura de vez. Pega de surpresa e, por isso, causa maior impacto no coletivo.

Falo, entre outras, da derrota da Seleção Brasileira de Futebol, nessa Copa do Mundo, levando 7 gols da Seleção da Alemanha. Pior: em 25´ de jogo. Pior ainda: 4 deles em 6 minutos.

Não trato das causas nem de táticas e estratégias adotadas ou deixadas de serem postas em prática pela comissão técnica e seu treinador, o Felipão, de porque sou como o Galvão Bueno: não entendo nada de futebol; aliás, nossa única e exclusiva parecença.

Refiro-me ao que sentiram – e disseram – milhares de pessoas país a fora pelas redes sociais, blogs e sites, inclusive de jornalistas – e que começaram a sentir vergonha alheia tendo que aceitar os erros dessa tal de comissão técnica.

Depois que o circo pegou fogo tentam agora apagar as chamas demitindo a catrevagem de gente e não pouparam nem aquela sinistra figura do “assessor de imprensa”, Rodrigo sei lá o que.

Perder um jogo dá uma vergonha alheia ao torcedor; perder vários dá raiva. Mas esse é o jogo; é assim que funcionam as coisas ou, como dizia o glorioso Otto Glória: num jogo de futebol só pode acontecer três coisas. Se ganha, se perde ou se empata.

Mas os tempos são outros, mestre! Se soubesses sentirias uma gigantesca vergonha alheia. A Seleção, Canarinho no seu tempo, mestre, hospedou-se, treinou e viveu num centro, reformado e adaptado com o que há de melhor para a Copa das Copas, como afirmou a presidente laranja, no pior lugar no mês de junho.

À noite e em dias nublados e com chuva – e foram muitos – a temperatura gira em torno de 14º. Pela manhã a neblina não permite o Felipão ver sequer a ponta do se próprio nariz. Tecnicamente, com certeza, foi o local mais adequado, pois não?

A vergonha alheia vem do que decorre de muitas variáveis. Como me diz Vulpino Argento, o Demente, e candidato a senador, “não adianta chorar sob o leite derramado, meu Divino Mestre. Chame o gato.”

A Seleção alemã é tetra campeã e pronto. Eles se prepararam pra isso por mais de uma década e fizeram com tamanha perfeição que ganharam a Copa do Mundo, pois esse era o objetivo.

Primeiro aqui escolheram o local onde Pedralvares Cabral – seu nome correto – achou o Brasil e lá construíram seu centro de treinamento e se hospedaram lá com suas famílias – mulheres, filhos, pais, mães e outros parentes e aderentes. Os brasilinos vibraram com tal deferência honrosa. Jogaram bola com eles, os índios se vestiram de índio pra dançar com eles e andavam na praia “como qualquer um”. Wunderbar!

O local é um resort construído por patrocinadores para eles e para a Copa. Foi parte do projeto. Agora está aberto ao público desde que paguem os preços desses lugares existentes no litoral da Bahia. Algumas coisas ficaram para a “comunidade”, pois eles não precisariam mais de nada daquilo. Um campinho de futebol que deixaram como presente, levou os brasilinos às lágrimas e a adorar aqueles gringos brancos e enormes.

Quando ganharam a Copa e receberam o troféu – que apenas alguns pajés sabem por que a imprensa e alguns brasilinos chamam aquilo de taça – dançaram a dancinha dos índios vestidos de índio que aprenderam em Cabrália em pleno Maracanã para milhões de telespectador ao redor do planeta – e agradeceram a torcida dos brasilinos por eles.

Na Alemanha os campeões do mundo também saracotearam no desfile por Berlim em cima do teto do que parecia um “ônibus aberto”. Foi então que demonstraram o que são os alemães, espanhóis, em fim os europeus. Lá, nessa comemoração de chegada da América do Sul, colonizada pela Europa e mantida pelo eurocentrismo preconceituoso e racista, andaram como os macacos; de cócoras e guinchando e dizendo é assim que “eles andam lá”. Depois se levantavam e gritavam andando eretos e petulantes, “assim andam os alemães”.

Também andavam em fila indiana, cada um com o braço sobre o ombro do que ia a frente, imitando a entrada de nossa seleção em campo, porém abaixados, com os joelhos dobrados quase ao chão. E fizeram muitas outras “gozações” com o que parecemos ser para eles.

Mas os brasilinos adoraram os alemães; pela simpatia deles, pelo bom humor, pela descontração. Eles eram tudo ao contrário do que pensávamos deles há séculos; antipáticos, sem graça, exigentes, sem humor. Não sou patriota indignado com estrangeiros debochadores nem estou disposto “ a morrer pelo Brasil” em troca de uma “pátria livre”. Também não sou nacionalista do tipo PSTU gritando abaixo o FMI, etc e tal. Nem sempre fomos um povo pacífico, acolhedor, pleno de bondades; basta lembrar o que foi a Guerra do Paraguai e a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul em 1983, também conhecida como a Revolta da Degola; o codinome já diz tudo.

Gosto do Brasil, de suas particularidades e de algumas peculiaridades; especialmente do nosso português brasilino. Gosto de tantas coisas porque nasci aqui; poderia ter nascido na ilha de Tonga. Tudo ao acaso.

Não gosto dessa nossa inferioridade canina, dessa nossa ingenuidade subdesenvolvida, desse nosso pobrismo intelectual e, principalmente, tenho o mais profundo desprezo e desconsideração por quem conduz nossa nação, políticos em geral e burocratas com pose de dona de cabaré, e misericordiosa compaixão dolorosa pela maioria de um povo iludido pela minoria amoral eleita democraticamente por eles.Um mistério doloroso.

Não aceito – mas o que eu posso fazer? – esse nosso sistema eleitoral onde 50% mais 1 ganha sob a insatisfação da outra metade que passa a ser tratada como minoria. Quem sabe um mínimo de como funciona os cocientes eleitorais, hão de concordar comigo. Quem será o Tiririca da próxima eleição? Creio que 99% dos eleitores não sabem o que representa seu voto e nem o que resultará dele numa urna que não pode recontar votos nem passa recibo ao eleitor.

Como pode uma pessoas ser eleita a presidente da república, renunciar o cargo para preservar seus direitos (!) políticos e tornar-se vereador. Por que devo aceitar um vice do candidato eleito por mim seu eu não votei nele? Por que devo aceitar que um sujeito desconhecido, 4º suplente de deputado federal assuma um mandato na Câmara no lugar do candidato que eu elegi?

Por que devo aceitar que o vice de um dos três do poder executivo assuma o poder quando o titular viaja para tratar de assuntos econômicos e políticos da minha cidade, ou do meu Estado ou do meu país? São dois sujeitos com poderes idênticos no mesmo cargo simultaneamente.

Por que devo acreditar em Tribunais de Contas responsáveis por examinar os gastos dos agentes públicos, apontar irregularidades e superfaturamentos em obras e serviços, e tentar evitar que recursos governamentais sejam desperdiçados, se “a maior parte deles é escolhida por critérios políticos; muitos têm parentes importantes, e há pelo menos dez casos em que a Justiça os afastou da função após descobrir irregularidades, proibindo-os em alguns casos até mesmo de passar a menos de 100 metros da instituição que deveria zelar pela boa aplicação do dinheiro público. São esses tribunais e conselheiros que cuidarão das contas dos 27 governadores eleitos neste ano e das Assembleias Legislativas, que, juntas, têm 1.080 deputados estaduais”.

Leio no O Globo que “pesquisa realizada pela ONG Transparência Brasil aponta que 44 conselheiros (23%) respondem a ações na Justiça ou até tiveram contas rejeitadas. Além do subsídio de R$ 26.589 e da vitaliciedade no cargo, os que obtêm uma cadeira em um tribunal de contas têm direito a carro com motorista, diárias, e, em alguns casos, verba para aluguel e até 14º e 15º salários”.

Se o Paraguai invadir o Brasil (dando o troco pelo massacre e destruição que perpetuou contra eles, na época, país mais prospero da America do Sul, não dependendo do apoio financeiro de nenhum país europeu, por ordem da Inglaterra, financiando o Brasil (desde D.João VI) e Argentina para a destruição total) corro para o Uruguai – que saiu da guerra quando percebeu que não tinha nada a ver com aquela estupidez – e vou morar em Piriápolis, com essa minha vergonha alheia.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 21/07/2014
Código do texto: T4890428
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