Gerações

Uma coisa muito bonitinha aconteceu hoje em meu consultório. Graças a Deus essas coisas “bonitinhas” acontecem justamente em situações críticas, de muito trabalho e de cansaço enormes. É como se um Espírito (que deve ser o Santo) baixasse lá no meu reduto pra dizer: “SIGA! NÃO ESMOREÇA!”.

Eu estava atendendo uma mocinha que voltava pela segunda vez à sua consulta. Enquanto eu lia exames e interpretava resultados, com olhos baixos, compenetrada naquilo que ela me enviava, ouvi de sua voz:

- “Você fez meu namorado nascer...”.

Ainda com olhos baixos, pra não perder a atenção nos resultados, perguntei:

- “Cuma?...”.

Ela começou, então, a dominar o pedaço e me obrigou a parar completamente a minha atenção, respondendo:

- “É isto mesmo, Leila! Eu comentei com meu namorado sobre você e ele disse que se lembrava que uma Leila fez o parto dele. Ou seja, o fez nascer. É você!”.

O interessante disto tudo é que a moça vem de um lugar, o namorado dela de outro, e eu, de muito mais longe ainda! Pura coincidência.

Essas coincidências acontecem de vez em quando, talvez cada vez mais repetidamente, pois eu começo a colocar terceiras gerações no mundo. E, apesar de o Rio de Janeiro ser imenso e termos milhares de médicos por aqui, toda hora eu recebo coisinhas lindas como esta como presente. É comum eu receber um adolescente, ou mesmo um adulto, mesmo homem, eu meu consultório, todo babão, querendo me conhecer – ou melhor, me reencontrar, pois eu fui a primeira pessoa a tocá-lo. Por muitas vezes consegui fazer com que esta geração nascesse com saúde.

Voltei a ler os exames da paciente, tentando ser apenas médica, mas me lembrei muito bem de muitas coisas que aconteceram com este bebê, o namorado desta paciente, muito antes de ele nascer. Coisa boa...

Leila Marinho Lage
Rio, 25 de julho de 2014
Clube da Dona Menô
http://www.clubedadonmeno.com