Poesia no Asfalto

 
      Quando entramos no carro que nos levaria a Santana do Acaraú percebemos que aquela não seria uma viagem qualquer.  Éramos quatro acadêmicas da AFLAM, dois músicos – Guido, exímio violonista do projeto EcoArte;  Alysson, flautista e diretor do Conservatório de Música e nosso Poeta  Maior Antônio Francisco. Saímos de Mossoró às 5h.

     Na saída uma oração pedindo a proteção d`Aquele que guia nossos passos. Quando o céu abriu suas cortinas e deixou que o sol derramasse seus raios dourados sobre o berço dos homens nosso poeta, em parceria com Guido, começou a recitar uma poesia com o mesmo tema.  O que já estava bonito ficou com ares de sagrado.
 
       Enquanto o carro deslizava pela estrada o poeta embalava nossa viagem com poesia, prosa e muita beleza. A caminhada era longa, mas a disposição do poeta parecia maior. Conhecemos o lado cômico do poeta que quase nos matou de tanto rir com suas piadas, algumas bem picantes.

          Após a parada para o café da manhã eis que o poeta revela outra faceta desconhecida pelo grande público – a de cantor. Com voz afinada ele começou a cantar velhas canções de nossa MPB para, em seguida, apresentar suas composições. Impossível não aplaudir e pedir bis. Se nosso poeta é imortal em consequência de seus versos, certamente seria internacional por sua música.
          
     Foram aproximadamente 1200 km de puro encanto. E quanto mais Antônio Francisco se revelava mais encantados ficávamos. Não sei quem é maior, se o homem ou o poeta, mas quero acreditar que não nascem muitos como ele. Seu talento, sua genialidade, sua humildade/simplicidade são exemplos raros e gratificantes de gente que não está preocupada em ter, mas em SER.
 
       O ritmo, a poesia e a musicalidade dos versos do poeta ultrapassa o limite da beleza e nos faz mergulhar em um tipo de melodia que dispensa o som na caixa, sua voz é suficiente para nos levar ao alto. Cada estrofe de sua poesia soa como um acorde celestial. 
 
          Na volta entrei em sua residência. Confesso que senti vontade de ajoelhar-me naquele templo e, de mãos postas, agradecer a Deus a graça de estar naquele lugar, tocando as obras e outras invenções* do maior cordelista brasileiro. Um lugar simples que reflete toda a grandeza da alma de seus moradores. D. Nira, sua esposa, nos ofereceu café com mandioca, mas como degustar coisas para o corpo quando a alma não cansa de beber toda beleza emanada do lugar?!
 
       Ao despedir-me do poeta senti que a voz estava embargada. Senti-me privilegiada por conhecer, e ser chamada de amiga, por uma pessoa tão grande. Tão humilde e talentosa. Confessei-lhe, honestamente, que viajar com ele tinha sido maravilhoso, mas como tudo tem seu lado ruim, conformei, diante de tanto talento, que ainda não posso ser chamada de poeta/escritora.
 
          Após esta viagem, se um dia eu precisar fazer a lista das sete maravilhas de minha vida, certamente, ela estará bem no topo. Para quem não conhece o poeta pode parecer exagero de uma fã que já teve a honra de ser premiada com uma poesia de sua autoria, mas quem o conhece sabe que não consegui traduzir tudo que ele representa.

          O ocupante da cadeira 15 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel foi tomar posse de “Calça curta e Chinelo” e, em sua bicicleta continua percorrendo o caminho dos sonhos e encantando aqueles que não têm medo de sonhar. Nunca serei suficientemente grata ao escritor Clauder Arcanjo pelo convite que nos proporcionou tantos momentos de beleza.  
 
          

Grupo que viajou para Santana do Acarau.
 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Som na Caixa!
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N.A:
1. http://www.recantodasletras.com.br/cordel/2911620 - Poema que ganhei de Antonio Francisco.

2. Antonio Francisco recitando na praça de Sobral para turistas cariocas. 

* além de todo talento na arte de escrever e cantar AF ainda encontra tempo para inventar coisas. Ele é, ao mesmo tempo, criador e criatura. Suas roupas, claçados, bolsas e outras tantas coisas são criadas por ele. 

 
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 29/07/2014
Reeditado em 29/07/2014
Código do texto: T4901222
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