Sapatilhas.

Gosto da maneira como calça as sapatilhas é um calçar dizendo que volta em breve me aguarde, mesmo que não diga isso eu sinto.

O jeito desconexo que ela entra nos seus pés afoitos se distanciando fisicamente pra bem longe, mas aqui dentro cada vez mais perto, ocupando todos os espaços, todas as frestas, como mar inundando a areia.

Mulher tem disso, são todas desajeitas quando acordam com aquele olhar entorpecido, como se tivessem passado a noite na balada, olheiras a mostra, bochechas amassadas, cabelo bagunçado e resmungos indecifráveis. Mas o dia sorri mesmo assim e eu sorrio junto.

É eu sei é tão simples que até parece bobo, mas eu gosto do simples o simples me cativa. Gosto da maneira como tudo acontece, da maneira que você chega tirando a roupa e sussurra baixinho no ouvido pra te fazer mulher, de repente o quarto se torna tatame e entre um golpe e outro eu te finalizo, mas ambos ganhamos.

Gosto de quando suas pernas tremem e você me olha no fundo da alma e me conta todos os seus segredos, seus medos, tudo o que já passou tudo o que já sentiu todos os sorrisos e decepções. As despedidas os reencontros e as dores que volta e meia teimam em voltar, só com um simples olhar negro.

Gosto do seu cheiro depois do sexo, tem gosto de essência de narguilé, nunca fumei, mas já estive entre fumantes. Prefiro você nua, mas fica linda andando pela casa com a minha camisa xadrez desbotada enquanto procura algo pra comer. Eu sei você tenta mas cozinhar não é seu forte.

Eu só observo compenetrado, a cada respiração, cada nuance cada trejeito, os joelhos desconexos, os tornozelos finos, as coxas um pouco salientes. Ela morde um pedaço de doritos, e me olha com olhar de pecado, eu retribuo. Ela senta do lado da cama dobra os joelhos, coloca uma mão entre eles, a outra por cima do ombro com os dedos a faz redemoinhos carinhosos enquanto adormece em meu peito com aquele formato de bebe que só ela sabe fazer. A pizza chega, comemos, ela taca a camisa xadrez na minha cara e fazemos tudo de novo.

Mas logo você parte, com a mesma simplicidade com que chegou, tirando meu sono, meu silêncio minha calma.

Gosto de vê-la novamente calçando as sapatilhas, prefiro a simplicidade das mulheres de sapatilhas essas não precisam de salto alto, pois já nos levam as alturas.

Andre Santana
Enviado por Andre Santana em 29/07/2014
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