Os Prazeres da Vida

Estava uma noite tranquila e talvez entediante no trabalho. Resolvi descer lá fora um pouco e acender um cigarro, como de costume.

Avistei então, um rapaz com uma caixa de moranguetes na mão, aquela barra de chocolates com morango, que eu comia muito quando era pequena. Ele chamou minha atenção e me ofereceu um. Recusei, pois meu dinheiro já estava contado pra comprar o maço de cigarros.

Fui então até a padaria e comprei o cigarro. Encostei na parede e acendi um. Vi então o rapaz dos moranguetes voltando. Com um sorriso sarcástico, intimou-me:

- "Não tem dinheiro para um moranguete, mas pra cigarro você tem?"

Sorri e lhe disse:

- "Fumar o meu cigarro me dá mais prazer do que comer um de seus moranguetes."

Insistente, ele continuou:

- "Mas cigarro mata, moranguete não!"

Tranquilamente sorri, virei-me de frente para ele e lhe respondi:

- "O cigarro me dá prazer, assim como a bebida pode dar para alguns e a comida para outros. Veja bem, eu estou fumando um cigarro, e ele sozinho não pode me matar. Mas se eu fumar 40 desses por dia, serei mais propensa a desenvolver câncer e morrer. É igual ao seu moranguete. Se eu comer um desses, não irei morrer. Mas se eu comer 40 desses por dia, serei mais propensa a desenvolver diabetes e morrer. Cada um se mata à sua maneira. O bom é que você pode se dar ao luxo de escolher qual delas te dá mais prazer".

Ele então sorriu e partiu. Da esquina pude vê-lo tirando um maço de cigarros do bolso e acendendo um. Ofereceu para dois garotos seus deliciosos moranguetes, dos quais ele nunca havia provado um. Sabia o que lhe dava mais prazer, e assim como eu, também sabia que um dia partiria deste mundo, de um jeito ou de outro.