Três folhas de couve

Seu Tião era uma pessoa muito simples que vivia da horta que tinha em seu quintal. Ele plantava alface, couve, almeirão, espinafre, cebolinha e coentro, que colocava bem cedinho em um carrinho de mão e vendia para uma clientela já formada, sempre aos domingos. O diferencial dele além da ótima qualidade das verduras era que ele não colocava um preço em seu produto, o freguês escolhia o que queria e pagava o que julgava justo. Não adiantava argumentar com ele, o mesmo não cobrava um preço fixo, ele dizia: Eu não cobro pelo que faço aceito doação, seu Tião vivia na base de troca. De um modo geral ele passava na minha casa aos domingos por volta das sete da manhã, onde já o esperava com o portão aberto. Certa ocasião, poucos dias antes da sua passagem para outro plano da existência, ele chegou dizendo: Desculpa-me, hoje as verduras não deram para todos. Quando olhei para o interior do carrinho três grandes folhas de couve, então me prontifiquei a ficar com elas, mas quando fui remunerá-lo, o mesmo não quis receber de jeito nenhum, vendo minha insistência o mesmo disse: É uma doação ao amigo. Assim foi meu último contato “no plano físico” com ele, isto há dezessete anos. Esta manhã quando fazia minha caminhada matinal, o vi ajudando almas em seus “translados”, com a mesma simplicidade que é uma característica de sua alma.