Os outros estavam na Espanha.
E ele, Pai e Filho, na sala assistindo àqueles.
Os outros, futebolistas, e o Pai e Filho quase dois estranhos. Estranhos seriam se não estivessem ligados pela genética. Estranhos por não dialogarem. O que não se sabia e nem se sabe até hoje o porquê. Talvez o mistério da genética: eram tão semelhantes que não precisavam de palavras. Sabiam-se.
Tanto se sabiam que bastava o gesto, os passos, os olhares... Ah, os olhares! Pelos olhares sabiam todos os textos.
O Filho tinha um olho no futebol, a bola rolava, no campo, perseguida pelos jogadores. Na cabeça rolava pensamentos: por quê?  Como assim: tão já acabado, tão já descrente, tão já despido de ilusão?
Aquela descrença do pai quase chegava a contaminar se não fosse a juventude, se não fosse um raio de esperança, se não fosse a vontade de ver o que seria o futuro – a vida que se mostrava à frente para o filho naqueles anos 80.
Os outros eram somente os outros: jogadores brasileiros na Copa Mundial de Futebol. Coadjuvantes, centroavantes de um texto qualquer no contexto daquela família, que naquele momento, só se fazia de pai e filho.
O que seria?
...
O que foi agora já se sabe. O jogo da Vida e Morte desenrolou o gramado da realidade certeira.
O Filho se casou e teve filho. Teve sabores e conheceu dissabores. Sonhou, lutou, recusa-se a perder a fantasia da ilusão.
O Pai, não demorou muito depois daquele mundial da Espanha de 82, morreu. Morreu e ressuscita sempre na memória do Filho. Acordou agora na mente do Filho que assistiu com seu filho a abertura de nova Copa Mundial de Futebol, Brasil 2014. Acorda sempre em datas especiais como no Dia dos Pais.
É assim que a vida em família se faz:
Acordo de memórias que realiza o milagre da ressurreição e a plenitude do perdão apaziguador dos corações. Acordos entre vivos e seus mortos. Os laços genéticos se bastam.
Feliz dia dos pais com perdões e abraços entre os vivos. Porque um dia haverá, nem mais álbum de família resistirão ao tempo, só lembranças e saudades!

 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 08/2014.
 
Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 08/08/2014
Reeditado em 10/08/2014
Código do texto: T4915271
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