NOSSOS PESCADORES

NOSSOS PESCADORES

Quem morava na beira de um rio, além de aprender a nadar desde pequeno, aprendia, também, a pescar. É o que acontecia em Calambau . Sendo banhada pelos rios Piranga e Xopotó, não faltaram exímios nadadores e pescadores que ficaram famosos na cidade.

Na década de 50, conhecemos vários deles. A maioria pescava com varas, sendo que alguns usavam redes, tarrafas, armadilhas, etc. Citaremos, apenas, os legítimos pescadores: aqueles que só pescavam com anzóis. Naquela época, algumas pessoas usavam até bombas: procuravam um remanso e jogavam as bombas, provocando uma grande mortandade de peixes. Poucos peixes eram aproveitados, pois a maioria já descia morta pelas correntezas. Na zona rural da Cachoeira Grande, no rio Xopotó, peixes eram apanhados no “pari” quando, na piracema, não conseguiam subir a cachoeira e ficavam retidos em poços preparados pelos pescadores. Era comum eles virem até Calambau , trazendo os peixes para serem vendidos. Esses peixes vinham em balaios, transportados em cavalos. As maiores vítimas desses pescadores eram as piabas vermelhas.

Pescadores famosos foram: Adeícula (Deíco), Tião dentista, Chico Batista, Crispim, José Marcelo, e outros. Mais recentemente: Zizinho Carneiro, Levindo (Patiágua), Toniquinho Lopes, Tobias, Quinquim Carneiro e vários outros.

O Tião (Sebastião Rabelo de Oliveira) dentista, casado com a tia Letícia, morava em frente à casa do Chico Batista, seu companheiro de pescaria. O consultório dentário do Tião era em sua casa. Como o rio Piranga passava no fundo do quintal do Chico, quando o Tião estava sem cliente, ia dar uma pescadinha. Para tanto ele esticou um arame do portão da casa do Chico até o rio. Quando aparecia um cliente, a tia Letícia avisava o Chico e este puxava um arame que dava um sinal para Tião, na beira do rio. Dos filhos do Tião, o Enio e o Guido herdaram o gosto de pescar.

Naquele tempo, o maior troféu que um pescador exibia era a piaba vermelha. Quando ela ultrapassava os três quilos, era comum ver o pescador exibindo o seu peixe nas ruas e vendas da localidade. Depois da piaba vermelha, os mais valorizados eram a traíra, a pirapetinga e a corvina. As iscas usadas, geralmente, eram minhocas, lesmas, toucinho, lacrau, tripas de frango, etc. Nós, que fomos criados na fazenda Baía, banhada pelo Rio Piranga, sempre tínhamos peixes pescados, de anzol, pelo nosso pai José Carneiro e pelos vizinhos, principalmente pelo Joaquim Isabel Correia, o Joaquim de Jozino.

O Patiágua, dificilmente vinha da pescaria sem um peixe. De acordo com os seus colegas, quando a pescaria era boa, ele sempre dizia o local da mesma, mas avisava:- Eu não aconselho ninguém a ir lá, pois tive que matar duas cobras... Tanto o Patiágua quanto o Geraldo Maciel e Zizinho Carneiro, já demonstraram a sua habilidade de pescar em rios do Mato Grosso e Goiás. Outros pescadores daqui, também, já estiveram por lá.

Tadeu Carneiro, calambauense, atualmente residindo em Barbacena, gosta muito de pescar e não é de falar mentiras. Contou-me que, certa vez, ele estava pescando com alguns amigos na represa de Itutinga, próxima a Barbacena, quando um deles notou que seu anzol estava agarrado em alguma coisa. Ele tanto puxou que conseguiu arrastar uma cesta onde o anzol estava agarrado. E não é que dentro dela estavam algumas garrafas de cervejas e umas latas de salsichas e sardinhas? Não pegaram nenhum peixe, mas deu para fazer uma farrinha... Eu acredito!

Hoje os nossos rios, devido à poluição e ao desmatamento de suas margens, quase não têm peixes. Se continuar assim, no futuro, não teremos peixes e nem rios.

Murilo Vidigal Carneiro

Calambau , julho/2014

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 10/08/2014
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