"DUPLO SENTIDO" Crônica de: Flávio Cavalcante

DUPLO SENTIDO

Crônica de:

Flávio Cavalcante

Aqui eu me prodigalizo e historio com deleite me sentido na sala da minha própria casa. Vivo e convivo com essa tese no dia a dia do meu trabalho na escrita. A riqueza que a nossa língua nos proporciona muitas em certas ocasiões e lugar, vem carregada com um vernáculo próprio ás vezes morando praticamente do lado de outrem. Apesar de nos conhecermos a fundo, sendo praticamente vizinhos, falamos línguas diferentes.

As cacofonias da língua portuguesa enriquecem ainda mais o nosso vocabulário, dando oportunidades para nós escritores de vários estilos de obras dar uma ênfase em nosso trabalho de entendimento claro e rico, fazendo com que o nosso público tenha uma obra aprazível e de identificação.

O duplo sentido de forma geral embutido na nossa língua causa até piada em alguns comediantes que marchetam em seu stundup’s. “QUANTO MAIS SE EXPLICA, PIOR FICA”. Assim vai da cabeça de cada um o entendimento.

Nas minhas andanças pelo nordeste brasileiro em pesquisa para novos roteiros, convivi muito com essas palavras de duplo sentido, que me ajudaram bastante para escrever as comédias regionais nordestinas. A histórias populares contadas pelo próprio povo do lugar, tem um dialeto próprio e rico. O que mais me chamou a atenção foi o vocabulário em cada cidadela que eu passei e na maioria das vezes não ficava muito distante de um lugar para o outro, mas a forma de se comunicar me deixou bastante perplexo com algumas palavras costumeiras da língua de cada povoado. Quando as palavras não vêm num duplo sentido pornográfico. “PELO CU TÔ VENO” O que significa pelo que eu estou vendo, é um linguajar muito falado pelo povo nordestino e tem um duplo sentido que eles não percebem essa cacofonia. Entre outros milhares palavras nesse sentido, temos também frases escritas corretas, mas que geram também um duplo sentido e foram estas frases que deram inspirações aos grandes sucessos musicais: A CABEÇA DO MEU PAULO, DEIXE O PAULO ENTRAR, NÃO FURE O QUINHO, BUBU CÊ TÁ QUENTINHA entre outras. Até eu mesmo entrando nessa onda do duplo sentido escrevi uma música em ritmo de xote, que fez muito sucesso nos bares do Rio de Janeiro. “O CABO “C” TÁ RUIM” Na música em si não tem nada de pornográfico mas devido à riqueza da nossa língua que estamos abordando faz com que se tenha esse duplo sentido.

A riqueza cultural não para por aí. Na nossa língua o duplo sentido vira epidemia de várias formas e podem ser benevolentes ou malevolentes dependendo da sua colocação. A vírgula por exemplo pode ter um duplo sentido benévolo ou vil. Já houve caso de alguém se prejudicar por causa de uma colocação errônea deste aparentemente simples sinal de pontuação que possui mil funções básicas por numa determinada frase mudar completamente o seu sentido desejado. O capitão de uma corporação pediu para o escrivão redigir uma ordem para um dos seus subordinados cumprir e começou a ditar “PRENDA, NÃO MATE…” Essa seria a ordem correta. O escrivão na pressa redigiu a frase corretamente, só correndo o lugar da vírgula “PRENDA NÃO, MATE” e enviou. No dia seguinte o capitão foi preso acusado de mandar matar o delinquente e realmente foi o que ele ditou e interpretado de forma errada. Essas e outras frases com duplo sentido escancaram portas de enriquecimento cultural de forma até perigosa em certos casos e sempre marcam a nossa literatura e há casos que é melhor ficar calado porque qualquer palavra mal alocada, podemos estar usando contra nós mesmos.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 13/08/2014
Código do texto: T4920631
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