TEMPOS DE COLÉGIO

Hoje eu acordei meio saudosista, amigo. Sinceramente, não sei se isso é bom. Talvez seja. Talvez não. Talvez não signifique nada. É que existem pessoas que vivem muito no passado, num saudosismo crônico terrível. Como também existem pessoas que só pensam no futuro: essas não vivem. Mas no caso, não é nada disso. São apenas recordações. Boas recordações. Elas me apareceram quando abri a janela e me deparei com a montanha branca, quase sumida no nevoeiro denso. Não sei o motivo, mas a neblina me trouxe à mente os meus bons tempos de colégio.

Estudei no Municipal, em Taubaté, nos anos de 80 a 86. No Municipal! É assim que o chamávamos. Municipal. Industrial. Idesa. Saad. Estadão. Naquele tempo, no Municipal, tinha um campinho de futebol. Tinha uma pequena arquibancada bem ao lado do campinho e das salas de aula. Mais ao fundo, duas quadras descobertas. Lembro-me que logo no início da minha jornada escolar, eu ficava lá sentado com os colegas vendo a educação física da meninada. Não demorou muito e me apaixonei pelas pernas de uma. Que pernas... Me apaixonei pelas pernas e depois por ela inteira. Cismei de escrever uma cartinha. Naquele tempo escrevíamos cartas. Quanta bobagem... Depois nos tornamos amigos. Uma amizade que resistiu às insipiências de um menino imaturo.

Na quinta série fui apanhado por uma hepatite. Um mês de molho. Lembro-me que estava na casa de minha vó, lá na rua Barão, quando despejei na privada um xixi amarelento, incandescente, assustador. Dr. Paulo Pereira, com um sorriso maroto, sentenciou pra minha mãe: “Uma hepatitezinha”. Entrei num tal de chá de picão. Pra beber e tomar banho. Coisa de antigo. Ruim de danar.

No último ano, às portas da formatura, participamos de um campeonato interno. Uma disputa entre classes. Nosso rival era o 3° B. Éramos do 3°A. Basquete, vôlei e futebol de salão. No ano anterior tínhamos perdido pra eles. Estávamos engasgados. Nos reunimos e Formiga decretou: “Vitória! A qualquer custo!” Ganhamos no vôlei. Ganhamos no basquete. Mas nada disso teria sentido, amigo, se perdêssemos no futebol. Coisa de brasileiro. Naquela tarde eu estava inspirado. Nem bem o prof. Ivo apitou o início da partida, eu roubei a bola, driblei um, driblei dois, driblei três, estufei a rede. Fiz quatro gols naquele jogo. Verdade! Não acredita? Pensa que é conversa de cronista? O Ferrari está aí e não me deixa mentir. O Henrique também. O João Vasco. O Formiga, não sei. Me disseram que ele está na China. Mas ganhamos. 5 a 4. Ganhamos tudo. Uma beleza.

Dos professores, lembro-me muito bem de alguns. O Ivo, que já citei, lá de São Luiz, e que demorou uma vida para apitar o fim daquele jogo. O Mazela. Ah, o Mazela... Vivia tirando com o diretor. Um quê de subversivo nele encantava. Certa vez, numa tarde abafada, ele paralisou a aula, saiu da classe como um louco. Depois voltou, e voltou com dúzias e dúzias de picolés, sob o olhar incrédulo do seu Donato. Groselha azul. Uma beleza. Tarde maravilhosa aquela. Lembro-me do professor Jayme, de química. A Vilma Thaumaturgo, que me pegou colando. O Evany. O Newton, de biologia. O Silvio Barone. A Duda. E tantos outros.

Dia desses estive com a prof. Genny Manara, de português, em sua casa. Certa vez ela quase chorou ao me ouvir cantar Disparada. Dei-lhe de presente meu “Confidências”. Com carinho.