FIM DE CASO NO APARTAMENTO 19

Os dois pararam na porta da casa dela. Ela, então, muito confusa, se atirou sobre ele, soluçando entre algumas comprimidas lágrimas que o orgulho, às vezes, esconde.

Ele a olhava com um ar de quem hipoteticamente faz pouco caso, mas na verdade ele parecia chorar também e esconder a tristeza com uma risada baixa, nervosa.

- Sabe de uma coisa? Eu só queria entender...

- Eu já disse que não há o que entender, Luísa. O amor acabou e ponto final.

- Meu Deus, não pode ser isso! No último fim de semana você parou aqui mesmo e disse que me amava, que sentia muito a minha falta, agora que eu comecei a faculdade e estava sem tempo. Estava tudo normal.

- O problema é esse. E o que é normal? Ficar longe de quem a gente gosta não me parece bom. Agüentar, eu sempre agüentei. Agora já não sei não... – e foi andando em direção à porta, encostado na parede com as mãos no bolso pra tentar evitar as da moça.

- Luísa, vê se entende. Eu não quero mais.

- Tudo certo, meu querido. Refaço minha vida como fiz de tantas outras vezes. Tenha certeza de que não vou me matar por você.

Ela saiu andando e iria entrar no apartamento número 19, não fosse o braço dele que a deteve num abraço de quem se despede pra não voltar mais.

- Pare, Romeu. Romeuzinho. No caso, agora, é Ro seu. – foram as únicas palavrinhas que Luísa conseguiu dizer, envolta no calor daquele que, um dia, jurara amor eterno, dava pancadinhas de leve no nariz dele.

- Me deixe ir agora. Fez-se a sua vontade e fim. Eu não reclamo de você terminar comigo. Até por cima do orgulho eu passei agora. Deus sabe que eu fiz de tudo pra dar certo. Não tenho arrependimento. O caso é que eu queria entender como se esquece uma pessoa tão rápido ou então qual a tática que você usou pra mentir bem assim todo tempo.

- Calma aí, senhora. Deixa falar, vai!

Riram-se. Olharam-se por um tempo.

- Bom se for desse jeito, eu vou indo. Adeus.

- Psiu, volta, volta aqui. Na verdade, Luísa, eu acho que não daria certo essa história de você ficar longe daqui, indo e voltando, todo dia.

- Ah... Desculpa, mas será que o teu amor é tão fraco assim? Ao ponto de não entender e aceitar os meus sonhos. Lutar por eles não faz mal a ninguém, aliás eu sempre te ajudei a pensar nos seus, nos problemas do trabalho, mas você... Realmente. Se não fosse triste seria cômico!

- Vai ver que meu amor nem é tão forte. Vai ver que você o matou com o tempo e o seu bom português. Falta de erros de português também mata o amor, sabia?

- Falta de caráter mais ainda.

- Ó, Luísa. Desse jeito não dá pra continuar conversando, eu estava só brincando, mas você já vem com quatro pedras na mão.

- Eu não quero continuar esse papo inútil. Esse é o grande mal em você, o de brincar na hora errada. Poucas vezes eu sei quando é verdade e mentira. Cansei, sabe? Agora quem não quer sou eu. Até mais.

As chaves tilintaram na fechadura, quando uma voz que também se afastava disse, ainda:

- Tudo bem, Luisinha. Nem me escutar quer.

- De verdade, não quero continuar com alguém que tem um amor fraco.

- Você sabe que não é assim.

- Eu não sei de nada, já falei. O que eu penso não é mais importante pra você, mas sinceramente esse amor fraco mostra bem a pequenez do teu caráter e o tamanho do meu engano.

- Professora de p...

- Sim. Vai, por favor. Sem ressentimentos, rapazinho?

- Não. Eu amo você.

- Amores estranhos...

- E o que você quer que eu faça? Me humilhe, me jogue aqui no chão. Eu não quero você longe, só isso.

- Não foi o que você disse.

- Está certo, então. Eu não sou bom em expressão. Desculpa, vamos conversar mais!

- Tenho vontade de um amor sincero.

- Comigo?

- Não, já sem você.

A porta do apartamento se abriu num arranque convulsivo. Dessa vez ela entrou.