Interrogatório

Trigésimo segundo DP, cinco e dezessete da manhã.

_Terminamos há um mês doutor.

_Terminaram ou você terminou?

_Na verdade, eu não suportava tanto ciúmes – Quando foi interrompida pelo delegado.

_Só responda a pergunta, por favor. – Disse o delgado acenando para que o escrivão ignorasse a última fala da jovem.

_Eu terminei.

_E depois...

_Ele ficou inconformado, chorou muito, disse que me amava e que eu não poderia fazer aquilo. Foi depois disso que começaram as perseguições.

_Perseguições?

_No final de semana seguinte ele encontrou com a Mary no coletivo... – E foi de novo interrompida.

_Quem é Mary? – Perguntou o delegado.

_Minha amiga depiladora. Então ele perguntou a ela se eu sairia no sábado a noite. Como a Mary ainda não sabia que havíamos terminado ela contou.

Contou o que?

_Que iríamos num barzinho.

_E ele estava lá?

_Estava. Ou melhor, eu não vi mas eu tenho certeza que ele estava, escondido em algum lugar me vigiando.

_ Mas você não viu?

_Não! Mas ele estava lá eu sei. E no final de semana seguinte também. E até no show do Milton que eu fui na semana passada.

_Mas você o viu em alguma dessas vezes?

_Não.

_Ah sim. E quando ele soube que você estava de namorado novo?

_Ele não soube, é que ele me viu na boate.

_E você estava com o senhor... – uma pausa para consultar a ficha - Marcos Miguel?

_Ainda não, eu o conheci na Boate, na verdade na saída da boate.

_E foi lá que ele te viu com o Marcos?

_Acredito que sim.

_Mas você não o viu na saída também?

_Não.

_E para onde foram depois?

_Ah doutor, o senhor sabe.

_Não. Não sei. Pra onde foram?

_Pro motel! Foi na saída quando tomei a avenida dos Albuquerques que eu o notei no retrovisor.

_Você quem estava dirigindo?

_Estávamos no meu carro. O Marquinho não tem carro. – e continuou – Então eu saí da avenida e tomei um caminho alternativo.

_E depois, conte-me os detalhes.

_Então o pneu furou. Enquanto o Marquinho trocava, ele virou a esquina. Eu reconheci a moto.

_E o que você fez?

_Eu fiquei “p” da vida doutor! Muito, mas muito nervosa mesmo. Ai aconteceu...

_Quando ele ia passando por mim... – E foi interrompida.

_Ele não desceu?

_Não. – respondeu em tom tímido e continuou – Ele tava indo embora. Mas eu não me contive, tirei meu tamanco e taquei nele. Não era pra acertar, mas acabou pegando.

_Com a tamancada ele caiu?

_Não doutor, o tamanco pegou na perna mas ele não caiu. – continuando ele disse:

_Ele encostou a moto, pegou o tamanco e veio em nossa direção. Sabe doutor eu não me agüentei, sou muito impulsiva. – enquanto ela falava a porta da sala abriu e um homem disse:

_Doutor! O laudo-médico saiu. Fratura em quatro costelas no antebraço e tem mais. Ele não vai mais poder ter filhos. E só não foi pior por causa do capacete que ele tava usando.

_Eu disse doutor eu sou muito impulsiva!

_Obrigado Chico. – Agradeceu o delegado.

E o Chico continua:

_Doutor! O pessoal da perícia também já tem uma conclusão. “Chave-de-roda”. E tudo indica que o nome da vítima é Adalberto, pelo menos é que estava na carteira de motorista e não Fábio.

Um minuto de assombro de interrogador e interrogada, quando o delegado rompe o silencio:

_“Como é mesmo o nome do seu ex-namorado?”.

_Doutor é possível colocar mais uma informação na ficha? Eu sou míope.