DIÁRIO DE UMA TRANSEUNTE II

Complemento

Fui a um salão de beleza pela manhã, pintar as unhas e escovar os cabelos quando duas senhoras entraram. Num salão, lugar comum é todos conversarem a despeito de se conhecerem ou não. Torna o ambiente mais interessante. Pois bem, essas duas senhoras são técnicas da Prefeitura do Recife. Uma delas trabalha na Empetur, a outra que falava tanto, mas não deu para sacar onde ela esta lotada. Deixei-as falar a vontade. Acho que é sintomático. Quando encontro alguém que fala mais do que eu, isso tem o dom de me fazer calar, ao ponto de não emitir uma palavra, até o momento em que coube uma intervenção.

Conversa vai, conversa vem, e o assunto desembocou na falta de educação da população. Bom, nesse momento, e eu já estava ali mais de uma hora, contada de relógio. Aliás, outra coisa que eu não suporto é ir para um salão, ficar esperando e esperando. Entrei de chofre e perguntei: por que na cidade do Recife as ruas do centro são tão sujas? A técnica da Empetur me perguntou se eu sabia quantas vezes os garis varriam as ruas do centro da cidade. Chutei e disse: três. Ela respondeu: “chegou perto, são cinco vezes ao dia. Fizemos um trabalho durante três meses com todos os camelôs e dogueiros” [] é assim que são chamados os donos das carroças de cachorro quente, além dos outros barraqueiros que vendem frutas e entre outras [] “e não surtiu efeito. Só aplicando multas, mas com o governo popular que nós temos...” Respondi que o governo pode ser popular, mas nossos impostos não são, são altíssimos e temos direito a exigir o cumprimento de lei que, acima de tudo, é uma questão de saúde pública.

Deixem-me dizer algo importante. Moro na zona sul e aqui o povo é mais civilizado. As ruas são tecnicamente limpas. Apesar de que, na minha rua, as distintas que passeiam com seus cachorros têm mal-hábito de deixar os dejetos nas calçadas; costumo dizer que é o “cocódromo” de Boa Viagem. Digo sempre aos que me encontrarem de cabeça baixa, não é depressão, é para não pisar, você sabe no que. Fico indignada. Puxa, no mercado, você compra uma pá e sacos específicos para acondicionar do dito cujo.

Mas, voltando ao assunto do salão de beleza, não fiquei o suficiente para ouvir o resto da conversa, mas é cruel ver o estado das ruas. A cidade é cortada por rios e mangues que já estão contaminados, poluídos, causando um mau cheiro horroroso, principalmente quando a maré está alta. Junte essa característica à falta de educação da população, e nós temos o caos.

Falta de educação deveria ser punida com multas, do mesmo jeito que se multa no transito. Lembram da vinheta? “Povo desenvolvido é povo limpo”. Temos muita sorte em morar numa área em que o sol dá o ano inteiro, se não, teríamos uma população morrendo por doenças como cólera, leptospirose, tétano, difteria, peste bubônica. A coisa não é pior, porque temos vacinas.

Não estou fazendo terrorismo, mas além da marginalidade, ainda temos que contar com uma população mal-educada, suja, que pelo modo como se comporta na rua, dentro de casa deve ser um horror. A sua cidade é assim! Que pena, a minha é! Quando vejo alguém jogando algo pelas janelas dos ônibus, dos carros, não me contenho e grito “porco”. Eu sei, eu sei. Isso também é falta de educação.

Recife, 19.05.07

Teófila