O Carpete Verde

Meu pai era pedreiro. Lembro de uma vez que construiu uma mansão na cidade onde morávamos, no oeste do Paraná.

Ele trabalhava de dia pra empresa e de noite pegava trabalho extra da dona da casa, auxiliado por nosso vizinho. Os serrões de trabalho eram para colocar cerâmica (azulejos) no porão.

Como era à noite, a mãe e a mulher do vizinho iam ajudar a passar a esponja para limpeza das peças já coladas na parede. Então eu e meus irmãos íamos junto.

Nós conhecíamos cada pedacinho do porão, lavanderia, garagem, lugares onde o pai colava os azulejos. Não passávamos dali. O chão, coberto de "maravalha" (aquela serragem mais grossa em forma de cascas), era nosso lugar de brincar para passar o tempo.

Uma noite, o pai lavou nossos pés de poeira e nos carregou de onde estávamos até a escada que levava ao segundo andar da casa. Tirou suas botas, arregaçou as calças e nos levou para conhecer o interior.

Lembro da cor verde musgo e do forte cheiro do carpete recém colado ao piso. Sentir a maciez daquele chão era uma experiência nova pra mim. Eu nunca tinha visto ou experimentado algo assim antes.

Fomos conhecer os banheiros, o quarto do casal, os quartos das crianças, visitas. Eu, que dormia na mesma cama da minha irmã num quarto diminuto, fiquei espantada com a grandiosidade de tudo. Imaginava quantas camas iguais a minha caberiam dentro de cada um daqueles quartos.

Quando fui conhecer a sala foi impressionante. Minha casa inteira cabia dentro dela. A sala tinha dois janelões enormes com gradeado todo trabalhado. Lá fora a grama já plantada. Outro trabalho do pai durante as tardinhas era ligar os jatos d`água para molhar a grama verdinha.

O chão da sala também era todo coberto com aquele carpete verde. Me senti uma princesa, mesmo os pobres pés descalços, naquele chão.

Num canto uma caixa. Fui espiar. Continha várias tiras de carpete. Pedi ao pai para levar algumas. Ele disse que precisava solicitar ao chefe. E conseguiu.

Na noite seguinte levamos várias tiras para casa. Viraram nossa brincadeira e enfeite no quarto meu e da minha irmã por muito tempo.

Na época, ainda menina, senti inveja de quem iria morar naquela casa. Achava muito injusto meu pai ter construído cada cômodo daquela mansão e eu nunca mais poder colocar meus pés naquele carpete verde e macio. Também não conseguia entender por que alguns possuem tanta riqueza e outros tinham tão pouco, ou quase nada, para viver...

É óbvio que o tempo passou, mas, as lembranças tem raízes bem fincadas e vivas dentro do peito.

Lembro que por vários anos meus irmãos e eu passávamos em frente a casa e espiávamos por entre as grades da cerca. Sonhávamos com o dia em que teríamos um chão de carpete macio e verde igual àquele para pisar.

Esse sonho nunca se realizou, mas... até hoje sinto o cheiro daquele carpete em minhas narinas...

Maria
Enviado por Maria em 22/08/2014
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