Ilusões de ótica

O monstro atrás da porta, à espreita no escuro, era só o casaco do pai, pendurado no cabide.

O bolo de aniversário (olhos infantis de expectativa e alegria) era todo coberto de chocolate - mas a faca revelou o interior absurdamente branco, o mais puro dos véus de noiva.

O dia da prova que antecedeu a noite em claro, debruçada sobre os livros, nada mais foi do que uma sucessão de perguntas óbvias que não justificavam nem por um instante olhos tão arenosos.

O primeiro namorado, amor eterno, razão da vida, não era a alma gêmea, nem a metade da laranja, nem mesmo a tampa da panela. Foi, de fato, mais que isso: importante fonte de aprendizado e óculos para ver de longe.

A vida, esta desconhecida, não deveria ser a causa de nossos cabelos brancos, de nossas rugas precoces, da ausência de saúde e do cansaço cotidiano. Ela é uma outra forma, escondida atrás dos nossos julgamentos baseados em crenças das quais nem mais sabemos a origem. Nossas expectativas é que são fonte de decepções e, por conseguinte, de tristezas.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma bola não é uma bola

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