A Bola não era Bola EC



Naquela tarde eles brincavam e se divertiam como ninguém. Estavam numa espécie de campo de futebol improvisado, embora muito, muito menor que o campo de futebol, mas a alegria e a disposição pareciam não caber no universo inteiro.

A bola rolava, voava de um para outro. Recebia chutes a mais não poder e as mães sequer tomavam consciência de tanta vibração e agitação. Ali eles podiam acontecer o que eles quisessem. A rede eram duas latas que demarcavam o espaço do gol. Era a criatividade que mandava ali.

Luís era de longe o mais entusiasmado, o mais gritante, o mais “elétrico”. Erguia os braços de forma agressiva algumas vezes, noutra se abaixava e quase chorava de raiva e de tristeza por não conseguir atingir o gol.

O sal do suor embebia o rosto dos meninos que bebiam aquele sal, talvez na esperança de que a vitória do time viesse da energia salina de seus corpos e do próprio sol. Não sentiam o tempo correr rápido. Já estavam pra lá de sujos de tanto que se atiravam ao chão, que caiam. Pobres dos joelhos reclamavam por um sossego, mas eles não atendiam, não os viam, nem aos seus cotovelos...

Já escurecia quando, de repente, Luiz grita. Atira-se ao chão chorando e levando a mão à testa (que graças a Deus é bem resistente). Quando tira a mão todos se assustam e ele mais que todos. A mão estava vermelha... de sangue. Levara uma bolada, que ainda bem atingiu a testa.

Luís protestava a força do chute dos colegas principalmente de Rui que poucas vezes havia conseguido alcançar a bola, que os amigos jogadores o chamavam de burro, de mole, de lento. Bulling?

O que ficou claro depois que o Luís foi atendido porque os pais foram chamados pelos amigos desesperados, era que o campo improvisado era minúsculo; não havia gramado e, sim, cimento, concreto. Tudo era feito para realmente ter um desastre ali.

Só não contavam com a novidade: a bola não era uma bola. Era uma... lata de doce em compota de pêssego ( ainda havia o rótulo na lata). Eles a amassaram e a fizeram de bola. E aja testa, né? Aja susto para as mães.

Mas o Luís dois dias depois estava pronto pra outra peleja. Ele e seus amigos não largaram a mania de chutar latas amassadas, sempre que as viam “dando sopa”.
Acredito que testa cortada com bola de lata não dói nada pois a tal brincadeira não há quem a derrube.

*****

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma bola não é uma bola
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/umabolanaoeumabola.htm
 
MVA
Enviado por MVA em 25/08/2014
Reeditado em 27/08/2014
Código do texto: T4936337
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.