Plágio

A dificuldade da arte da escrita não está nas suas conjunções ou concordâncias verbais, nem na grafia das palavras ou tão pouco nos seus temas quase sempre questionáveis, escandalizantes ou controversos.

O real problema da arte da escrita está no seu animismo.

Elas, as palavras, possuem vontade própria e sempre que o autor dedica ao papel sua caneta, ou de forma mais lírica, dedica sua pena ao traço, sua clarividência ou controle do que escreve dura pouco. E quando se dá conta já é vítima dos caprichos de seus próprios versos ou parágrafos.

Exatamente como um espírito literário numa psicografia criativa, genómica, que dá origem ao novo que vem do além de nosso controle.

Ou como um filho rebelde, que por mais que tentemos aplacar e controlar, continua a seguir seus próprios caminhos e a experimentar seus próprios sabores.

Notem que agora mesmo já perdi o total controle sobre cada palavra e o significado assumido por cada uma, e a esferográfica desliza solta a debochar da minha racionalidade.

Apesar de toda minha indignação de incompetente, com a libertinagem da arte da escrita é a esta que agradeço. Não fosse a alforria, ainda que parcial, de tão incólume arte estariam agora a ler não uma crônica, mas um subproduto da banalidade bitolada dos grilhões de uma sociedade capitalista, que impregna a parte burra da minha inteligência que mal crê na sua própria existência.

E ainda mais grato, que serenada a disritmia da escrita, quando vislumbro a obra e se chega ao derradeiro ponto final, a nobre arte abdica sua criação e a mim transfere sua autoria.

Reginaldo Junior

19/01/2007