Segunda-feira

Seis da manhã, ela dormia. Eu, desperto pelo incômodo e corriqueiramente matinal soar “Zerramalhiano” do despertador contemplei-a, como de costume em minhas manhãs de início de semana.

O contorno desnudo de suas costas descobertas; seu ombro esquerdo evidente; os cabelos claros, soltos, escondendo sua nuca, mas deixando exposta a lateral do pescoço… Não resisti!

Aproximei-me vagarosamente para sentir o perfume de minha “Flor”. O mesmo perfume que guardei somente na lembrança por tanto tempo, e que agora, ali em minha cama exalava-se abundantemente.

Ergui-me do meu momento pelo ressoar repentino do despertador uma outra vez. Um mecanismo de segurança para que eu não seja tragado pelo desejo de ficar ali, deitado ao seu lado, embriagando-me com seu cheiro.

Em um silêncio cuidadoso erijo-me, separo o que vestir e vou à ducha. O barulho do úmido respingar parece a inquietar. Assim, findo o banho e visto-me. Ao sair, contemplo-a novamente.

Agora ela está de bruços. Sua cabeça voltada para a direita me permite ver seu rosto. Observo seus olhinhos fechados e nariz vermelhinho, contudo, detenho-me a sua boca.

Aqueles lábios fartos e entreabertos, de vestíbulo acentuado e pontinha evidente. Minha fonte de doçura e logradouro do sorriso que me encanta; endereço de minha hipnose… Não resisti e beijei-a.

Como correspondência, sou presenteado com uma tímida demonstração de alegria no cantinho dos lábios e um sussurro: “Bom dia amor”. Mas, não quero acordá-la de fato, e saio lentamente do quarto.

Preparo uma boa caneca de café com leite, o “néctar da vida eterna”, e aprecio-a enquanto vejo as notícias no jornal matutino, porém, os minutos se passam e logo chega o momento de sair.

Antes, volto ao quarto para mais uma vez contemplar minha inspiração. Deitada na cama ela descansa sossegadamente. Beijo sua fronte como de costume e ouço a frase que me move à labuta: “Bom trabalho amor”. Pronto! Tenho a certeza de que meu dia será excelente.

No trabalho, o pensamento está nela, sentido de todos os meus esforços e razão de meu empenho. E é por isso que nesse momento de intervalo eu escrevo. Conto ao papel, com caneta emprestada e rascunho roubado, o quanto sua lembrança está em minha mente e como anseio o fim da manhã, para correndo, reencontrá-la, abraçá-la, beijá-la e repetir minha confissão de amor, agora podendo contemplar seus olhos cor de mel, bem abertos, olhando-me e lendo esse breve ensaio discursivo de uma segunda-feira de agosto.