"Yo no soy marinero"

“Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições.” Heb 10; 32

Os Hebreus, destinatários da epístola estavam enfraquecendo em sua fé, e o autor evocou como encorajamento a ousada entrada aos caminhos da fé para desafiá-los a manter a mesmo confiança até o fim.

Costumamos dizer que, quem não aprende com o passado tende a repetir erros. Acontece que o fenômeno Marina Silva redefiniu os rumos da corrida eleitoral. Se, Eduardo Campos, tragicamente falecido, não apresentava índices animadores nas pesquisas, Marina aparece como possível vencedora no segundo turno. Dada a relevância disso, acho que convém pensar um pouco sobre o assunto.

Quem é Marina? Que ideias defende? O que significaria uma eventual eleição dela? Sabemos que a dita sustentabilidade, um viés ecológico norteou sua carreira política chegando a ser Ministra do Meio Ambiente no Governo Lula. De origem humilde, fé evangélica, oriunda de um Estado economicamente pouco expressivo, o Acre, conta com a simpatia de grande parcela do eleitorado; sendo que já fez votação expressiva quando concorreu pelo PV.

Costuma falar com certo desdém dos partidos, e de práticas que define como “velha política”, pretendendo, assim, ser uma alternativa inovadora. Não gosto do “novo” que chama atenção para essa “novidade”, pois, todos, mesmo os que estão há doze anos no poder falam em “continuar mudando”. A sacrossanta ideia de novidade permeia até escopos bem velhos, pois.

Na entrevista de ontem no Jornal Nacional, William Bonner questionou isso. Os fortes indícios de caixa dois no caso do avião do PSB, a composição emergencial de uma chapa com Beto Albuquerque com o qual tem divergências, sobretudo, na questão dos transgênicos e pesquisas com células-tronco. Enfim, se usam recursos de origem nebulosa, e compõem uma chapa heterodoxa, por interesse, em quê diferem da “velha Política”. Ela enrolou e não soube responder.

Na verdade, o novo quando surge, o faz espontâneo como a erva no telhado.

Eu comecei essas considerações dizendo que deveríamos aprender com o passado; isso de alguém carismático se eleger sem estrutura partidária tem, ao menos, dois precedentes: Jânio Quadros e Fernando Collor. O primeiro renunciou, o segundo, foi deposto.

Ademais, ela fala coisas contraditórias para quem pretende gerir uma nação complexa como o Brasil. Por um lado, recusa-se a subir em palanques estaduais onde teria que os dividir com PSDB ou PT. Lembra uma música cá do sul que diz: “Nego bom não se mistura.” Porém, questionada sobre a composição de um eventual governo diz que vai trabalhar com os “bons” de todos os partidos, incluindo os que rejeita se aproximar no palanque.

Ora, é precisamente esse “ecumenismo” que mistura cobras e lagartos no mesmo espaço, o toma lá dá cá ; a fisiológica troca de favores que faz a velha política.Assim, ela pretende destronar?

Ela é de origem humilde, eu sei; Lula também era antes de enriquecer via corrupção; de modo que essa credencial não me serve. Ah, mas é evangélica também. E Daí? A escolha é para gerenciar um país continental, não, para ir para o Céu. Essa pertence ao Eterno.

Ademais, não gosto de pretensas frases de efeito que nada dizem de objetivo, consistindo-se apenas num meio de se evadir às questões práticas. Prefiro posições claras, como assume Aécio; Armínio Fraga será seu Ministro; reduzirá para 24 os ministérios em vez de 39 como hoje; pretende recadastrar o “Bolsa Família” corrigindo distorções, respeitar instituições e oferecer segurança jurídica aos investidores, etc. Enfim, compromissos específicos, invés de generalidades.

O PT deu o que tinha que dar; roubou o que não tinha que roubar. Governar em consonância com os “bons” de lá, absolutamente não me interessa. Invés de zelarem pela ética, o decoro quando, eram a “nova política” em ascensão, fundiram Estado e partido, e fizeram das finanças públicas, “cosa nostra”. Ademais, interferem no STF, no TCU, para proteger corruptos amigos do rei; criaram o decreto PNPS que pretende “sovietizar” o país, e Marina se mostrou favorável.

Sob argumento de ampliar a democracia, vão reduzir aos militantes profissionais que formam tais conselhos, solapando direitos dos representantes legitimamente eleitos. Não me serve também.

Mas, e se ela for eleita e fizer um ótimo governo? Confesso que não me importo nem um pouquinho de estar errado, se isso acontecer. Porém, como estou me posicionando agora, opino baseado em fatos, e não gosto da postura de eleitor gozador que elege os Tiriricas da vida, como se, a gestão de nossa economia, sociedade, fosse assunto para palhaçada.

Não digo que ela é palhaça, mas, que muito dos votos que atrai são gratuitos, dos que acreditam estar mesmo rejeitando a “velha política”, quando ela mesmo assume que comporá seus ministérios com os tais.