A morte do romântico

Quem tem vergonha não faz vergonha. Não tenho roupa, mas eu sei vestir. Quando as cabeças da literatura começaram a rolar eu pulei dentro do barco das letras para o ABC salvar.

Quando a primeira bomba atômica caiu e as primeiras cabeças das músicas começaram a rolar em minha carruagem resgatei um piano e um violão para que os últimos acordes pudessem ficar.

Quando Guimarães Rosa encontrou com Mestre Vitalino e lhe disse que as pessoas não morrem, mas se tornam encantadas; Mestre Vitalino começou a escrever com a arte da cerâmica já que o ABC lhe foi roubado. De suas mãos cada peça executada em Caruaru era disputada e quando a lentidão alcançou suas mãos sua arte já havia chegado a todos os rincões e quando ouvimos as trombetas dos anjos foi aquela emoção.

Quando recebi minha carta da posteridade reivindiquei minhas saudades, se minha mão lhe trair, que o castigo te faça boba. Se eu lhe trair, que minha língua cole no céu da boca.

E para amenizar minha melancolia serviram-me um gostoso prato de democracia. Depois dessa guerra fria com medo de uma morte vazia fixei residência no fundo do mar.

Seu grande sonho nunca morre, pois mesmo depois de enterrado ele renasce e continua dando vozes a outros seres humanos. Já os pequenos sonhos fecham no olho da rua. E o romantismo perde espaço para o exorcismo? E a certeza da incerteza me basta.