Crianças de apartamento

     Já era de tardezinha, ventava, e o vento agitava tudo lá fora.
     
     Alicia estava contente porque ia chover. Ela é maluca para ver a chuva escorrer na janela. Só quando relampeja, fica com muito medo.
     Renato é atento, queria ver tudo que podia. Se apertava ao lado de Alicia e ficava de olho no céu. Apertava os olhos para enxergar melhor e seus óculos embaçavam. Alicia falava muito com ele, mas ele não respondia. Pensava longe, solto.

     Tique-taque, tique-taque, trovejou muito, mas não caiu um pingo de água. Anoiteceu lentamente, sem chuva, sem estrelas no céu, e agora sem jeito de espiar mais nada. A janela e seus acontecimentos pararam no escuro da noite. O céu nessas noites é negro e calado.

     Depois de tanta observação e espera, sentaram-se quietos no sofá da sala fria. Alicia querendo muito que alguém chegasse, avó, mãe, pai, qualquer um. Renato grudado nela. O jeito é ligar a televisão...