Acordei em Paz e o Mundo Estava Mais Leve

Eles se despedem, ela está cansada, ele desperto. Tiveram um dia adequadamente correto, respeito mútuo, trocas de mensagens de celular, algumas de carinho e preocupação, resoluções de problemas, coisas do cotidiano, inclusas, claro, pitadas de bom humor, ou não, trocas de palavras que sugestionam carícias mais tarde, ou não. Enfim mais um dia depois de tantos e, ainda na expectativa de viverem tantos e mais tanto a mais.

A cada dia que se passa coisas novas acontecem, coisas de sempre se repetem, mas agora é diferente, parece que tudo tem um significado diferente, parece que as palavras dos dois existem em dicionários com traduções e explicações diferentes, parece que algo não está batendo bem, mas eles não têm muita noção disso e os dias estão passando. A sensação de desconforto aos dois é bem clara, mas eles não assumem e nem conversam muito sobre isso.

Um celular vira um vilão e, pobre do coitado do celular, nem tem culpa. Um notebook se torna alvo de suspeitas e perseguições, verificação de históricos e todas as buscas, por crimes de atividades proibidas e, o pobre do notebook continua com sua vida servil, sem ter culpa de nada, sofre ameaças dos usuários e pensa, “que bosta, só sou um instrumento e eles acham o quê? Que eu sou culpado dessas paranoias”?

Enfim, desconforto. Enfim, medos. Enfim, receios. Enfim, toda espécie de baixa autoestima explicitada em instrumentos tecnológicos.

Eles querem ficar juntos para sempre, eles querem vencer todos os obstáculos, mas não têm conseguido. Até algumas poucas vitórias são conquistadas, mas por tão pouco tempo...

Será que a tal da confiança já não existe mais nos dias de hoje? Ou até existe, mas tenho suspeitado que na verdade hoje se pensa desta forma: “Quer saber, eu não tenho controle sobre nada e se quisermos fazer algo faremos, apagaremos, excluiremos históricos e tal e dificilmente alguém saberá". Eu sei que seu fizer merda pode dar um problemão, por isso me esquivo disso ao máximo e tal. O que eu posso fazer? Tentar ser o melhor no que eu faço, tentar fazer coisas que até não gosto, mas que hoje são primordiais para eu me sentir seguro, ou seja, se virar com dietas, malhar, correr, me garantir nessas bobeiradas que o tal mundão tanto valoriza: estética, ficar bonito, atrativo, como se fosse um "seguro de vida" onde se ameniza o risco de ser abandonado.

Seria tão mais fácil nos aceitarmos e termos a tal confiança,àquela que você sente quando tudo está sadio, quando sua mente está em paz, quando você tem certeza que você não é partícipe desses flertes malditos, dessas sujeiradas, dessas vadiagens... traições. Como é bom colocar a cabeça no travesseiro e saber que se a tal pessoa que está ao seu lado fizer uma merda, ela que vai perder uma pessoa boa e que você lamentará, mas seguirá em frente tranquilo, pois você segurou a onda, não foi seduzido, não foi mais um que morreu nos lábios de um inimigo disfarçado de sedução.

São respostas esquisitas, mas bem reais para um dos dois, ao menos espero que um dos dois tenha hombridade. Se forem dois perdidos, sem autoconfiança e com esse caráter dos “dias atuais”, que é um caráter onde se pode fazer o que não se pode... estão arruinados e nem sabem.

Respostas esquisitas, mas sensatas. Respostas esquisitas, mas que nos fazem refletir. Vale a pena arriscar-se e perder um amor de verdade?

Vale a pena arriscar-se e ver o mundo desabar e você ter recomeçar do zero por pequenos momentos de prazer e paixão proibidos?

Vale a pena comer a carne e beber do sangue que não te pertence, e que pode pertencer até a outro, ou outra?

Tenho certeza que para tais perguntas, respostas esquisitas apareceriam aos montes.

Seremos donos do nosso amanhã, pode ter certeza. E o amanhã pode ser bom, ou uma tragédia consumada e mais um recomeço, mais um retrabalho, mais uma depressão, mais meses e meses de álcool, entorpecentes, amigos e farras para amenizar uma dor, a dor da perda do que jamais poderia ser perdido, o seu grande amor.

Fui dormir e pensei nisso tudo. Cheguei a uma conclusão, preciso ser feliz e andar em paz, então se a merda acontecer, que não seja eu quem a faça. Resolvi confiar e crer que existe uma tal Justiça Invisível que honra quem anda em fidelidade. Cri nisso e peguei no sono de forma diferente...

Acordei em paz e o mundo estava mais leve. Fui correr e o dia estava lindo, esperei ela acordar e liguei para ela e disse: “Te amo, mais do que você imagina”.

Christiano Buys

Christiano Buys
Enviado por Christiano Buys em 31/08/2014
Reeditado em 04/01/2015
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